Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
agosto de 2001
DESPEDIDA SAUDOSA
Quando soube meu coração se confrangeu e doeu
tanto ao lembrar-me daquela mulher maravilhosa, generosa, forte,
bonita com tantas potencialidades e que se foi em pouco tempo,
esmagada por um câncer fatal e violento como sempre. Ontem
ela se foi depois de tantos sofrimentos e fico amargurada ao pensar
que durante todo o período de sua doença eu jamais
soube que estava mal. A notícia me pegou desprevenida e
intensa.
Nos conhecemos há tanto tempo, desde crianças
e no momento que mais precisava eu nem sabia! A vida é
curta e jamais aprendemos a valorizar verdadeiramente as pessoas
que amamos.
Há algum tempo atrás nos encontramos e como ficamos
felizes ao abraçar-nos com imenso carinho jamais imaginando
que seria a última vez. Ela olhou-me docemente e enquanto
trocávamos confidências me dizia com entusiasmo
-A vida é boa! Mesmo com todas as tristezas. Elas são
mais lembradas porque machucam, mas as alegrias são maiores!
Durante algum tempo pensei em sua frase otimista imaginando se
ela tinha razão.
Recordo-a garota, os cabelos compridos e lisos, o olhar doce
e impetuoso, a palavra fácil e gentil, a voz harmoniosa
e meiga. Recordo-a novamente sempre muito alegre o sorriso generoso,
encontrando uma desculpa para os defeitos de todos que se acercavam
dela. Era uma pessoa especial. Especial e rara.
Lembro-me de nossas férias cheias de tantas novidades,
as risadas ecoando talvez na esperança que toda a vida
a felicidade nos acompanhasse sem interrupção.
Nunca esquecerei seu jeito há um tempo destemido e frágil,
a garra com que enfrentava os pequenos problemas diários,
a confiança indiscriminada que sentia pelas pessoas e a
certeza que tinha de seu sucesso e felicidade.
Sem querer enquanto as lágrimas surgem abundantes e o
nó na garganta maltrata e magoa, lembro-me de que dizia
que jamais ficaria velha. Uma vez respondi enquanto ela me olhava
silenciosamente:
-Como vai fazer? Morrer antes? Ou existe uma mágica que
quer me ensinar?
-Vou morrer antes, Vânia. Não sei como, mas vou
morrer antes. Não que eu queira, mas tenho certeza que
vou. Alguma coisa me diz. Tenho que andar rápido e fazer
todas as coisas que quero.
Realmente Suzana tinha uma urgência de realizar imediatamente
tudo que se propunha a fazer. Parece que vivia na certeza de que
ia morrer no dia seguinte. Um dia vi sua mãe lhe falando:
- Por que a pressa Suzana? Tem toda uma vida a sua frente.
E ela sempre sorrindo respondia como se fosse uma brincadeira
de mau gosto:
- Não sei até quando estarei aqui.
Ficava triste todas as vezes que ela dizia isso talvez porque
só nessas horas pensava que tínhamos um limite.
E minha querida amiga realizou grande parte do que ambicionava.
Na última vez que a vi não falou diretamente nesse
assunto, mas com seu jeito de querer fazer várias coisas
ao mesmo tempo dizia:
- Estou trabalhando tanto, minha amiga. Queria que o dia tivesse
mais de vinte e quatro horas.
E referindo-se à minha mania de trabalhar à noite
e dormir sempre muito tarde completou:
- Adoro quando quero falar com você de madrugada e tenho
a certeza de encontrá-la alerta, Vânia. Detesto o
silêncio que a madrugada costuma trazer. Não gosto
de saber que não posso encontrar com ninguém nessa
hora e da inércia que a noite sugere.
Olhei-a carinhosamente e então ela me disse que pretendia
fazer um curso na Alemanha e que talvez durante uma grande temporada
não nos encontrássemos.
Ambas ficamos melancólicas a olhar-nos como se o tempo
tivesse acabado e começamos a recordar a nossa infância
e adolescência feliz. Logo, porém nos recuperamos
e fizemos planos para o futuro que nos esperava.
Foi a última vez que a vi há seis meses atrás
e hoje inundada de saudade e impotência diante da vida como
sempre constato, peço que seja feliz onde esteja e consiga
realizar, vibrar, entusiasmar-se e se sentir plena. Onde será
esse lugar? Mas seja onde for sei que encontrará uma razão
necessária para sua presença tão querida
e exuberante.
No momento só consigo sentir saudade! Muita saudade! Par
mim a despedida será sempre sua lembrança que jamais
esquecerei.
Vânia Moreira Diniz
|