Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
agosto de 2001
EM BUSCA DA CIDADANIA
Antes da formação da sociedade os homens viviam
em constante guerra uns contra os outros, fruto do próprio
estado da natureza humana onde a solidão era o calabouço
d'alma.
Nesse estado os indivíduos não tinham ligações
uns com os outros, vivendo cada qual fechado em sua esfera de
interesses que se resumia na própria sobrevivência
e em choque com seus semelhantes.
Segundo Aristóteles, quando os homens passaram a agrupar-se
socialmente e de
forma organizada e não mais em meros bandos, objetivaram
buscar um bem que
os satisfizesse em suas necessidades básicas.
Nesse momento, quando o conhecimento individual passa a ser compartilhado
com outros em prol do grupo social organizado, temos que o resultado
tornou-se mais eficaz na distribuição de atendimento
às necessidades básicas desse mesmo grupo.
Assim surge o contrato político entre os homens, existindo
a normatização das atividades do grupo social, seu
reconhecimento e escolha do líder que determinará
o cumprimento do estabelecido.
Todos unidos numa só manifestação de vontade
com normas próprias de funcionamento e comportamento social
dão surgimento ao Estado, do latim civitas, com tamanho
poder e força que a todos conforta na sensação
de referência e integração.
O poder político exercido junto ao Estado, seja absolutista
ou democrático representativo, não mais hoje tem
razão de ser, já que mesmo na democracia exercida
pelo voto e esgotando em si só, o político sempre
vai manter a forma de atuação de maneira a conservar
o "status quo" vigente.
O poder político absolutista nem será considerado
eis que ilegítimo em sua própria essência.
Na democracia meramente representativa, presidencialista ou mesmo
parlamentarista, os interesses da maioria raramente são
alcançados em sua plenitude, pois as leis e normas emanadas
do poder político jamais atenderão as necessidades
dinâmicas da sociedade.
Comprova-se tal raciocínio, pela simples constatação
que o Estado Democrático somente pode agir mediante lei
e esta é elaborada por políticos profissionais que
deixam de atender as necessidades básicas da sociedade
pela falta de obrigatoriedade de cumprimento das cláusulas
do mandato outorgado através do voto.
A penalidade pelo não cumprimento do anteriormente acordado
com seus eleitores ou programas partidários, quer seja
excluindo-o do partido ou mesmo de seu mandato, ou a ausência
de sufrágio no próximo pleito, mostram-se insuficientes
para que o modelo ora citado funcione a contento.
Quando se transfere o conhecimento de um indivíduo para
outro para que este último atenda suas necessidades básicas
ou do grupo social a que pertença, qual a garantia que
o atendimento será de acordo com o anteriormente pactuado?
Nada garante que o resultado seja o combinado, conforme se verifica
nas democracias meramente representativas.
Nesta forma de governo, com o exercício máximo
da cidadania, qual seja o voto, o escolhido raramente atende aos
anseios do grupo social que o elegeu, mas sim interesses diversos
e muitas vezes sectários e distantes do objetivo de atendimento
da satisfação do bem comum.
Democracia significa "Governo do Povo". Não
é uma palavra abstrata, mas sim um valor fundamental da
vida de um país na relação representativa
e fundamentalmente participativa da cidadania com o governo, em
todos os assuntos de interesse coletivo.
Não é possível o desenvolvimento de um país
na distribuição justa de suas riquezas, com um desenvolvimento
racional e moderno sem a participação popular, fundamental
nos interesses da nação, já que a mesma não
se esgota simplesmente através do sufrágio universal.
O interesse e a participação devem se dar através
dos partidos políticos, das comunidades de bairro, dos
conselhos comunitários, das pastorais de fé, dos
sindicatos etc, de maneira tal que haja a efetiva intervenção
da sociedade nos assuntos de governo, de forma que determine o
real rumo do des envolvimento do país.
Desta maneira o cidadão deixa de ser mero espectador da
vida para influir decisivamente nos destinos de sua comunidade,
de seu município, de seu estado e de seu país, não
esgotando sua participação democrática meramente
com seu voto, mas sim como elo de uma corrente de vontades que
prenda o governo à execução das diretrizes
determinadas por essas próprias vontades, junto aos três
Poderes.
É necessário que esse moderno modelo democrático
de participação popular se desenvolva, para que
os recursos provenientes da arrecadação tributária
por parte do Estado sejam efetivamente destinados à satisfação
das necessidades do povo com a manutenção desse
mesmo estado dentro dos limites mínimos de segurança
externa e funcionamento burocrático.
A burocracia do Estado não deve jamais se sobrepor às
necessidades do povo, o que se controla somente com o desenvolvimento
de uma democracia participativa e não meramente representativa,
já que esta última se mostrou inegavelmente superada
na distribuição do bem comum.
Como modelo exemplificativo, podemos citar a complementação
administrativa de uma prefeitura municipal em seus segmentos de
secretarias executivas com conselhos comunitários formados
por segmentos representativos e participativos da população
afetos àquela área ou pasta, que determinam suas
prioridades e fatias reais do orçamento municipal para
atendimento das necessidades por ele detectadas.
Esta participação popular não seria remunerada
para não se desenvolver sua mercantilização,
mas sim somente em busca da efetiva solução dos
problemas atinentes àquela área.
O prefeito municipal teria somente a participação
política para representação da cidade e para
dirimir os conflitos de interesses na distribuição
das fatias do orçamento para as secretarias com os conselhos
comunitários.
Haveria a prestação de contas ao fim de cada exercício
anual à prefeitura municipal por parte das secretarias
com os conselhos comunitários e também à
câmara municipal e, em caso de não aprovação
das contas o envio ao ministério público para as
denúncias de responsabilidade, tudo com o acompanhamento
do Tribunal de Contas.
A própria Constituição do Brasil promulgada
em 5 de outubro de 1988 já demonstra um avanço nesse
sentido, estabelecendo algumas modalidades de participação
da sociedade nos destinos do país, tais como: Propor projetos
de lei; plebiscitos; referendo; formação de associações
com fins lícitos; liberdade profissional e sindical, inclusive
aos funcionários públicos, participação
dos trabalhadores nos lucros e gestão das empresas; mandados
de segurança coletivo etc.
É necessário que o pensamento ideológico
da participação popular nos destinos do país
seja amplamente difundido e estimulado, para que a luta por uma
justiça social seja sustentada na plena liberdade de poder
que tem o povo hoje na utilização de todos os mecanismos
lícitos e amparados constitucionalmente para o alcance
desse fim.
Somente com a participação popular, lícita
e justa, haverá a quebra das amarras da escravidão
burocrática do povo da tutela econômica e autoritária
do Estado, estabelecendo uma nova ordem de distribuição
da riqueza arrecadada através dos impostos em benefício
real do bem comum e da justiça social.
Sem a participação popular, o Estado tende a ter
uma forma de governo autoritária ou paternalista, a qual
de uma forma ou outra apenas isola o cidadão de seu desenvolvimento
individual e coletivo, já que apresenta fórmulas
próprias de inter-relacionamento social e político.
Para que o Estado se desenvolva de maneira moderna com uma melhor
e justa distribuição e sua riqueza, é necessário
fundamentalmente que o povo lute por sua liberdade de participação
através de todos os mecanismos lícitos existentes,
já que o poder político de conquista se dá
naturalmente pela própria organização popular,
diminuindo naturalmente as desigualdades sociais.
O homem deixa de ser mero espectador da história, quando
se organiza e passa a ter uma maior participação
nos destinos de sua cidade, já que ela é um ente
concreto, diferente do Estado que é ente político
abstrato, tendendo a se aproximar mais da figura teológica
do criador, já que há uma perfeita interação
de funcionamento da relação da vida com a vida,
como em tudo, quer seja na visão micro ou macro do cosmos
universal.
É o homem determinando seu destino, o verdadeiro sentido
da criação, sempre em busca de uma identidade que
o integre cada vez mais com o planeta em que vive, deixando de
ser um objeto inanimado ou coisa manipulável, mas sim elemento
fundamental da vida, nascendo em decorrência uma nova sociedade
mais justa em favor dos interesses de todos.
Douglas Mondo
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