Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  agosto de 2001

José

De todos, quem mais amei, foi José. Ele não foi o primeiro, nem era assim,... tão bonito, mas quando me beijava a boca e em mim percebia, fingimentos de ser menina, se fazia doutor na arte de me ensinar a soletrar as estrelas, percorrendo com a língua meu céu; que era todo rosa.
E José, quando comigo se enroscava, numa dança sem música e sem ritmo, com
os olhos meu coração engolia, fazendo-me orvalhar sob a trama delicada do tecido.
José, um senhor de respeito, me arrancava as roupas como quem despe um
sonho, com melindres de não desvestir da mulher, as fantasias de ser para
sempre, criança.
De todas as formas José me beijava e de todos os jeitos me mordia,
preenchendo meus vazios com todos os desnorteios e gozos de homem vivido.
E um dia, José, que tinha nome de Santo e nem era assim,... tão bonito, partiu nas asas de um anjo e me deixou de saudade; um gosto nos lábios de amor resolvido.
E, se de muitos que depois vieram, e em minha cama deitaram querendo me amar, de todos, eu sei, o único que amei foi José.

Mariza Lourenço

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