Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
agosto de 2001
Tortura policial
Antes da promulgação da atual Constituição
da República Federativa do Brasil, em 5 de outubro de 1988,
havia uma figura jurídica que permitia à autoridade
policial prender qualquer cidadão para averiguação.
Bastava o delegado de polícia determinar, que qualquer
pessoa era presa para ser averiguado.
Com a nova Constituição, essa excrescência
jurídica deixou de existir e normalizou-se o Estado de
Direito.
Quando o cidadão estava preso, sob essa norma jurídica,
por via de regra era torturado nas delegacias policiais, e abatido
física e psicologicamente, acabava confessando até
o que não havia praticado.
Com isso, o número de acusações e crimes
solucionados era muito grande, dando a sensação
de segurança e paz social.
Para contribuir com essa falsa segurança, a imprensa era
proibida de divulgar tais acontecimentos e por conta da censura
tínhamos um país que vivia sob aparente normalidade.
Em dias atuais, com a liberdade de informação e
vigência do Estado de Direito, os governos estaduais não
aplicaram recursos em seu sistema de segurança para desenvolvimento
de polícias modernas e empreendedoras de métodos
científicos de investigação.
Nem tampouco investiram em salários dignos, aparelhamento
e desenvolvimento
de uma política inteligente de segurança.
Ao longo do tempo, com o aumento do fosso social que separa ricos
de pobres,
surgindo no Brasil mais de 50 milhões de pessoas vivendo
abaixo da linda da miséria, não haverá plano
de segurança que dê resultado, se não forem
atacadas as causas reais do aumento da criminalidade.
Pressionados os governadores por resultados, acabam repassando
aos seus secretários de segurança pública
que acabam cobrando de seus delegados gerais das polícias
civis e dos comandos gerais das polícias militares a diminuição
dos índices de criminalidade.
Por sua vez, os delegados seccionais e os comandantes dos pelotões
das polícias militares cobram de seus homens e de suas
tropas os resultados que lhes são impostos por seus superiores
e por conta dos baixos salários e da raiva incontida pelo
descaso dos governadores quanto às negadas reposições
salariais, não é preciso ser muito esperto para
saber quem acabará pagando o pato.
Ademais, na ponta da outra linha temos a cobrança da ONU
para punição nos
casos de tortura, bem como ações diretas das comissões
internacionais dos direitos humanos.
Como é sabido, os governadores não aplicarão
recursos nas secretarias de
seguranças públicas se não forem pressionados
para tanto, nem efetuarão
reposição salarial se também não forem
induzidos a isso, já que muitos não
reservaram verbas específicas junto às LDO's.
Ainda, com a diminuição das aplicações
das verbas estaduais e federais nas causas sociais, temos que
num futuro muito próximo haverá o caos social e
um aumento enorme nos índices de criminalidade, principalmente
nos grandes centros urbanos, já que o descaso político
para as reais causas é fator preponderante.
O único caminho, a meu ver, a curto e médio prazo
para que sejam otimizados
os recursos existentes e haja um controle da ação
policial dentro dos limites no Estado de Direito, é a formação
de Conselhos Comunitários de Segurança com a participação
popular juntamente com os órgãos que cuidam da segurança
pública e demais entidades civis e governamentais.
Com isso, haverá legitimidade para que os governos estaduais
sejam pressionados legalmente para aplicação de
verbas específicas junto às secretarias de seguranças
públicas, com as devidas reposições salariais
e ataque direto às causas sociais, já que a participação
popular induzirá naturalmente a isso.
Nas cidades em que os Conselhos funcionam a contento, os índices
de criminalidade estão sob controle e a participação
popular deu legitimidade e desenvolvimento de ações
conjuntas entre as polícias e guardas municipais, otimizando
os poucos recursos existentes e a divisão de responsabilidade
entre todos, já que segurança pública compete
a toda sociedade e não somente ao Estado.
Douglas Mondo
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