Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
agosto de 2001
O operário
Luis era empregado em uma empresa de prestação
de serviços de limpeza.Levantava-se às quatro horas
da manhã. Maria ia para a cozinha. Luis trocava a sua roupa
e saia para enfrentar as três conduções para
chegar à empresa onde trabalhava.Apesar desta dificuldade
toda, Luis sempre chegava cedo ao trabalho. Na empresa, ia para
o vestuário, colocava o seu macacão "jeans"
de trabalho com as suas botas brancas de borracha. Terminado,
ia para o refeitório onde tomava o seu café com
leite e pão com manteiga. Já estava pronto para
dar início à sua labuta diária. Pegava o
seu material de limpeza e se encaminhava para a sala do Diretor,
limpar as vidraças, onde fazia um trabalho de mestre. Cumprimentava
a todos e por todos era querido.Era humilde e conhecia o seu lugar.
Na hora de seu almoço, ia para a cozinha esquentar a sua
marmita, encaminhava-se para o refeitório da empresa ,
procurava um lugar onde não seria importunado e saboreava
o seu "almoço" que a Maria lhe preparara. Essa
lida era diária.
Os funcionários da empresa já estavam acostumados
com a via sacra diária do Luis. A sua bondade era notada.
Era compreendido por todos. Trabalhava aí, já há
cinco anos e o trabalho era o mesmo. À tarde, Luis ia limpar
outros setores,de forma que não atrapalhava em nada a rotina
da empresa.
Em torno das cinco horas, o Luis trocava o seu macacão
de serviço, colocava a sua roupa, simples e bem limpa aguardando
o som estridente da sirene.Estava chegando a hora de voltar para
casa.
Um certo dia, Luis recebeu um telefonema, dizendo que Maria estava
doente e havia sido levada para o hospital Ela passou mal em casa
e os visinhos chamaram o resgate, e a internaram em um hospital
no centro da cidade. Luis, recebeu a notícia, procurou
a gerência da empresa, explicou o ocorrido e pediu para
ir até o hospital.
Lá chegando, foi à portaria, que estava muito confusa,
devido a uma série de acidentes ocorridos, mas Luis não
teve problemas, pois foi acompanhando a atendente até a
enfermaria de mulheres. Casualmente, o médico lá
estava atendendo a Maria, e Luis perguntou:
Doutor - como está a Maria?
O médico respondeu: Luis, a Maria está com pneumonia
e deverá ficar internada por uma semana. Tiramos as chapas
de seus pulmões e já iniciei o tratamento. Agora
ela está dormindo. Pode vê-la.Porém, o horário
permitido às visitas, se expirou. Voltarei amanhã.
Luis saiu, foi até um botequim e tomou uma dose de cachaça.
E agora o que farei? Vou para casa, tão distante
e sem a minha Maria? Vou pensar.
Voltou à empresa, procurou novamente o gerente e explicou
todo o acontecido.
Dr. Paulo posso passar a noite aqui na empresa? Ficarei
com o vigia. A minha casa é muito longe e com a Maria no
hospital, nada terei a fazer. De nada vai adiantar eu ir para
lá. Aqui é bem mais perto do hospital e já
estou no meu serviço. Na hora do almoço, vou comer
pão com mortadela e tomo um cafezinho. Trabalho e depois,
vou para o hospital.
O gerente pensou um pouco e autorizou o Luis a permanecer na empresa.
Porém, Luis, você não vai comer pão
com mortadela e sim, vai tomar as refeições junto
com os outros funcionários. Vai para o refeitório
como os demais. Todos gostam muito de você e isso é
o mínimo que a empresa pode fazer por você.
Os dias aconteciam uns após outros. A rotina do Luis era
a mesma. Serviço,hospital,pernoite na empresa. Sete dias
se passaram.
Maria recuperou-se e ia ter alta naquele dia. A empresa determinou
que um veículo seu levasse Luis e Maria até sua
casa. Os olhos de Luis estavam cintilando de contentamento, pois
ganhou nova vida, com o retorno da Maria. A vida deles ia voltar
para o normal. Essa era a felicidade de um operário, que
também tem o sagrado direito de ser feliz.
Alberto Metello Neves
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