Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  maio de 2001

Prosa poética

LUZ E SOMBRA

Naquele espaço onde a luz brinca de ausentar-se, sempre há uma noite a refletir aquele momento na vida onde nos escondemos nas trevas da simulação, ou mostramos nossas fraquezas que nos enchem de coragem como ponto de iluminação.

Na vida, dia ou outro, o nosso reflexo no espelho acabará mostrando um ponto de interrogação. E agora José, Maria, Antonia ou João?

Nessa hora, melhor cobrir-se de esplendores e rezar ao pai de todos os senhores, que a ignorância nos aquecerá contra a escuridão e o medo se dissipará debaixo da lã que teceu lindos cobertores de ocasião.

Se acordado estivermos e o pensamento como manto de solidão não encontrar um
olhar amigo, sincero como semblante de coração, o passo seguinte, quando muitos desistiram, mostrará pessoas remando na mesma canoa entoando cantos de oração.

Uns morrerão, outros levarão ao fim do caminho, longo como sempre há de ser, nova esperança e fatal compreensão: pouco importou, amanhã de manhã, a sombra ofuscará a luz e entristecida a alma, novo canto mal-encarado sobreviverá feito verbete sem explicação.

Que seria da luz se não houvesse a escuridão?

Bela é a vida, misteriosa é a morte, que nos enche de glória o peito tal qual vitória. Não fôssemos nós, talvez fosse outra a história, mas aqui, agora, somos presente, passado da futura hora.

Ao canto do galo, que se vá a razão e nos invada a inconseqüente alma sonhada, qual loucura controlada, pois perante o universo somos tudo e somos nada, como bendita face do criador que escondeu a outra sombreada.

Nada há a temer, melhor beijarmos todas as mulheres amadas, brigarmos de peito aberto pelas lutas inacabadas e ao fim do caminho, tomarmos vinho, já que vamos todos morrer de câncer ou atropelados sobre a velha calçada, como mosaico manchado desenhando o mapa da cidade abandonada.

E nessa hora, que se faça luz, pois se houver apenas escuridão, que ironia, era sombra a superfície real. E o corpo, coitado, mera e obsoleta reprodução.

Douglas Mondo

« Voltar