Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
agosto de 2001
O Encontro Casual
Ele estava a dois passos de mim e me olhava como se quisesse
me abraçar. Há muitos anos não o via e agora
ao perceber aquele homem tão bonito que eu tivera a ilusão
de amar, sentia que o que restara para mim fora apenas uma terna
lembrança. Terna, mas distante.Sentindo seus olhos concentrados
em meu rosto imaginei que estivesse querendo captar o que se passava
naquele instante. Estava simplesmente sentado atrás de
uma mesa de executivo e cuja porta eu abrira por engano, quando
na verdade quisera visitar outra pessoa.Mas algo além da
surpresa e do chamado dele me fizeram entrar na sala.
Fui me aproximando devagar até que ouvi o som da sua
voz:
Você não mudou nada. Continua a mesma mulher
pela qual me apaixonei.
Então ambos não mudamos...
Ele riu, mas o som me pareceu apenas um arremedo da gargalhada
que ele quisera encenar. E me perguntava o que me parecia bizarro
naquela cena inesperada.
Continuo apaixonado por você e fixado e fascinado
pelos seus olhos.
Recordei, então nosso relacionamento tempestuoso perguntando-me
se ainda havia muito da antiga intrepidez em seu temperamento
impulsivo. E imaginei que sim, só que compreendi que parecia
ter receio de alguma coisa. Mas não tinha certeza.
Acho que hoje podemos ser amigos embora depois de nosso
último encontro nunca mais o tenha visto.
Seus olhos grandes e escuros me pareceram ainda mais negros
com a sombra das recordações a perturbá-lo
e perguntei-lhe sem me conter
O que há com você? Aconteceu alguma coisa
além desse nosso encontro casual?
Já foi há alguns anos mas me responda.
Foi morar em outro lugar?
Sim, por uns tempos. Mudança de emprego e também
de lugar.
E nunca mais pensou em mim ou quis saber notícias?
Preferi assim. Reatamos várias vezes nossa relação
por aquela paixão que nos consumia, mas sabíamos
ambos que não daria certo. Nossos temperamentos sempre
foram opostos. Tínhamos que aprender a viver sem ela.
Quando o fixei seu rosto estava devastadoramente amargurado
enquanto me perguntava
Então não soube de nada?
Nada o que? e estava ansiosa quando fiz a pergunta
Ele não respondeu. Apenas deu um impulso à sua
cadeira de executivo e chegou até perto de mim, num segundo
tão rápido que tive a ilusão de estar tendo
um pesadelo.
Suas pernas imóveis na cadeira pareciam inertes e frágeis
debaixo da calça leve e não sei como nem porque
lhe perguntei ainda:
Como aconteceu isso? Não pode andar?
Algumas lágrimas que ele não conseguira impedir
desciam de seu olhos enquanto dizia:
Tortura maior foi imaginar que você tinha ido embora
para não me ver depois do meu acidente.
Permaneci calada, enquanto a dor tomava conta de mim, surpresa
e petrificada com o que via, tentando compreender porque razão
não fora me despedir quando resolvera definitivamente mudar
de vida e de cidade. Sentira desejo e lutara contra isso. Por
que?
Vânia Moreira Diniz
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