Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  agosto de 2001

Maria, vai sua tonta!

Nesses tempos modernos, em que reina a liberação feminina - graças a Deus e a nós, mulheres, principalmente, nesses tempos de maior liberdade em todos os campos, muitas mulheres têm-se sentido pressionadas a cumprir uma liberação que ainda não chegou bem dentro delas, para a qual ainda não estão totalmente preparadas.

É aí que digo que continuamos todos, homens e mulheres, de uma certa forma, escravos. E aí você naturalmente se espanta; e espantado perguntará: Como assim? E indignado, ainda poderá tachar-me de retrógrada.

Mas vejam: antes éramos pressionados, principalmente nós, as mulheres, a cumprir metas traçadas culturalmente há décadas, talvez milênios, de uma rigidez moral que chegava às raias do absurdo. Quantas de minha geração não tiveram famílias extremamente conservadoras e puritanas, em cujos lares só era permitido "namorar em casa" e outras coisas do gênero. Sair sozinha com o namorado era um Deus nos acuda! Se até colocar a mão no ombro e andar de mãos dadas era proibido. Namorar, naquele tempo, só com "boas intenções".

Não que eu seja contra as boas intenções - Deus me livre! - porém quantas acabaram se casando com o primeiro e único namorado de suas vidas, apenas por causa da excessiva pressão familiar? E quem se deu mal, fez uma má escolha, levada pela pressão, dane-se, ou melhor, danou-se sozinha, porque nenhuma ajuda externa e posterior alivia a carga.

Bem, mas chegaram os tempos modernos e aí era para darmos vivas, batermos palmas. Aleluia! Porém não é bem o que acontece. Como já disse, há Marias que apenas vão de tontas, em busca apenas de um afago, um afeto, uma companhia.

Mas também há o outro lado da moeda, que é quando você recebe o convite, não aceita, julgando não estar preparada; acha que ainda é cedo, que precisam se conhecer um pouco mais e o cara desaparece. E você fica sem entender o motivo; às vezes se recrimina, achando que talvez se...

Eis o grande problema dos tempos modernos: a liberalização.

E você de novo vai me achar retrógrada, mas antes deixe que eu me explique: o que digo é que a liberação, pela qual em nossa adolescência ansiávamos como tábua de salvação, não somente não resolveu os antigos problemas, como criou outros.

Hoje, a grande angústia é saber até que ponto ceder ou não à liberalização; e, se há aquelas que "vão de tontas" e depois se culpam porque o outro sumiu, se desinteressou, também é bem real o outro lado da moeda: aquela que não vai e o cara some também, e ela, eu, ou todas nós ficamos sem saber o motivo. Por que será que ele sumiu? Pois ainda há muitos que dizem que, apesar da modernização, ainda continua valendo o preceito de que "é preciso bancar a difícil".

Instaurada a confusão geral, como dar conta de tudo isso sem uma pitada de insatisfação, uma sensação de encontrar-se perdida em um labirinto, qualquer que seja a postura adotada? Qual o inquérito policial capaz de esclarecer o mistério, ou ao menos dar conta do paradeiro do desaparecido? Qual a teoria psicológica capaz de nos dar uma certeza sobre o melhor comportamento a ser adotado?

Nenhuma, infelizmente. Ninguém é capaz de decifrar certos mistérios do comportamento humano, ninguém é capaz de definir regras que sejam válidas sempre, para todos os casos e todas as situações, simplesmente porque cada ser humano é único, cada situação é irrepetível em seus contornos e nuances.

Então, fica-nos uma sensação de que "já que vai sumir mesmo, melhor que eu vá. Ao menos aproveitarei o bom momento".

E se você acha que estou querendo lhe ditar qualquer regra de comportamento, afirmo-lhe que se engana, porque eu mesma, no próximo convite, não serei se irei ou não.

E a você, se for, espero que ao menos seja bom; agora, quanto a pedir que ele não desapareça, posso ajudar na busca de poções milagrosas, simpatias e outras coisas que eu mesma não sei se funcionam, mas dizem que fazem milagres. Quem diz, não me pergunte.

Mas posso ajudar, por que não? Apenas um detalhe: funcionando ou não, que tudo fique em segredo, jamais me comprometa!

Maria Esther Torinho

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