Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  dezembro de 2001

O ESPÍRITO DO NATAL

A narrativa poética abaixo me foi dita por Alfayeus, numa quente tarde de sábado, quando percebeu que nuvens sombriaspairavam em meu espírito, em razão dos últimos acontecimentos que se davam na Terra. Alfayeus chegou com seu jeito de
sempre. Vestia uma túnica branca, posto que viera ainda há pouco da Grécia Antiga, onde fora mais uma vez assistir ao''Edipo-Rei", de Sófocles. Surpreendendo-me tão triste, logo se acercou, lembrou-me que estamos na época natalina, momentoem que não cabe qualquer espécie de tristeza, posto que aniversário da pequena criatura divina. Eu, mais para agradá-lo, tentei sorrir, foi um estrago. Ninguém engana àquele sábio. Sem mais delongas, iniciou então a narrativa que dá conta de um encontronuma época imprecisa, que se deu numa noite natalina, entre amigos de fé, num lugar que não me ocorreu registrar. Perdoe oleitor se sou mal repórter. É que pela magia do conto fiquei encantado, e ao novamente dar conta de mim, Alfayeus já se fora.Para onde? Quem pode saber? (Ricardo Alfaya)

Zero hora. Éramos cinco. Cinco amigos fraternos em volta da mesa
Termináramos a refeição da Noite Sagrada
Eu propus ao anfitrião que fizéssemos um brinde
Antes da sobremesa.

— Que seja feito o brinde, Alfayeus
Mas, antes, que cada um encante
A seleta platéia com algum verso
Em honra daquele cujo aniversário
Aqui em ceia se homenageia.

— Excelente idéia Ubião, mas quem começará?

— Aquele a quem pela ordem o bom espírito inspire
Que se levante e cante aos ouvintes.

— Nesse caso se me permite o Mestre Ubião
Começarei eu a quem primeiro suponho
O espírito chegou.

— Que seja, jovem Phabyo, que verso te inspira?

— Quando o toque de um sino
Toca o coração de um homem
São os sonhos do Menino
Que nele repercurtem.

— Belo, Phabyo, belíssimo! Quem, o próximo?
Tu, Raphael?

— Difícil, estimado anfitrião, improvisar a palavra
depois da tão bela fala de nosso querido
companheiro Phabyo. Mas eis que me atrevo,
posto que o espírito natalino tocou-me de jeito.

— Diga então Raphael. Desempenhe à vontade teu
papel e com tua voz nos encante.

— Phabyo lembrou do som do sino
E no seu dom de ecoar o sonho.
Eu lembro, pois, do brilho
De quem no peito tem
A estrela de Belém
Cuja luz no caminho
Conduz à trilha do Bem.

-Magnífico, Raphael. Eu, Alfarestes,
Diante da suprema eloqüência
De teu poema digo apenas:
O aroma dos incensos dos Magos
Perfume de um tempo passado
Hoje se faz presente no que dizes
A poesia é a palavra em essência

— Grande! E tu, Alfayeus, antigo amigo,
Ainda não lhe ocorreu o sopro do espírito natalino?

— Caro Ubião, ainda nada me ocorreu de tão nobre
Talvez somente lembrar aqui de Assis
Aquele que se despiu do manto de ouro
Para calçar o couro da sandália de pobre
Assim o fez porque Assis o quis
E um dia num momento lírico e épico
Teve um sonho e inventou o presépio

— Muito bem lembrado, Alfayeus. Resta então
Somente a mim, Ubião, o dizer de uma palavra
Derradeira para encerrar este amável colóquio.
Digo com prazer a cada amigo nesse instante
Que tudo quanto aqui foi dito foi muito próprio.
E que uma disputa somente serve à Glória
Quando cada participante atinge o louro da vitória.
Brindemos todos à Paz na Terra.

— Amém.
— Amém.
— Amém.
— Amém.
— Amém.

Amem.

Ricardo Alfaya,
dezembro de 2001

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