Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  junho de 2001


A Poética da Casa: o direito à moradia na Idade Legal.

     O poeta francês Baudelaire questionava durante sua longa trajetória de solidão: "Uma bela habitação não torna o inverno mais poético, e o inverno não aumentará a poesia da habitação?". A cidade de Campinas abriga cerca de 968.172 habitantes, segundo o IBGE, sendo que o número de idosos não foi divulgado pelo novo censo e alguns destes são os moradores das ruas campineiras.
   Entretanto, a cidade, sua estrutura urbana, está longe de ser uma "casa". Muitos idosos são privilegiados e podem escolher sua moradia: lareira, piscina com águas quentes e o  mais fundamental: a intimidade e o amor dos amigos e familiares. Todos possuem esse direito ao espaço de convivência mais íntima e ao sentimento de proteção que emana desses lares. Porém, alguns não encontram esse espaço entre amigos ou familiares, então, como todo pássaro precisa de ninho, os abrigos e asilos, ou melhor, as casas dos idosos são construídas para suprir essa necessidade de habitar, de viver com harmonia, em determinado espaço.
     Pode-se falar numa Poética da Casa, ou seja um lugar de convivência em que o ritmo da alegria deve estar ao lado da proteção e isso aflige tanto aos ricos quanto aos pobres. O filósofo Gaston Bachelard, no livro A Poética do Espaço, definiu "... quem tem um palácio sonha com uma choupana, quem tem uma choupana, sonha com um palácio...". A choupana significaria aquele lugar que irradia humanidade e fraternidade e o palácio, conforto e segurança. Na verdade, busca-se um convívio dialético entre esses dois espaços.
        Maria Helena Barbetti, assistente social da Prefeitura Municipal de Campinas e representante da Secretaria Municipal de Assistência Social no Conselho Municipal do Idoso, acredita na importância do movimento atual que procura promover a integração dos idosos também com os jovens e toda a sociedade, pois os antigos espaços de exclusão que confinavam os idosos com outros idosos não estavam trazendo a alegria necessária para o grupo em
busca daquele lar não encontrado entre os familiares. Para resolver este problema, a solução apontada vem sendo a criação das Repúblicas que devem ser coordenadas pelos próprios moradores. Entretanto, enquanto os resultados desta nova política em defesa da tal Poética da Casa não se tornam uma realidade, os antigos abrigos e asilos também procuram ser uma alternativa de moradia em que os idosos são acolhidos e recebem a atenção necessária para começar uma nova vida.
   Em Campinas,   existem vários locais que procuram oferecer esse convívio para os idosos. O Lar dos Velhinhos, por exemplo, localizado na rua Irmã Maria Santa Paula Terrier, n.º 300, Chácara República/Campinas-SP, fundado em 25 de julho de 1904, proporciona assistência permanente a 160 idosos carentes, que encontram nessa casa, moradia, alimentação, recreação, tratamento médico e psicológico. Assim, o inverno pode ser mais poético para todos e ninguém deve se entregar ao frio: "os temores nascem do cansaço e da solidão..."(Renato Russo, retirado do Desiderato).
P.S: O Lar dos Velhinhos sobrevive principalmente da colaboração da comunidade, assim, quem já encontrou um ninho para esquentar o corpo e a alma, no inverno campineiro, pode contribuir enviando qualquer quantia para o Banco Banespa, agência 0632, conta 13001700-3, ou pode ser voluntário. Entre em contato pelo fone: (19) 3241-4000.

     Antoniella Devanier 

« Voltar