Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  junho de 2001

Cidade mal- assombrada

     A cidade de York, na Irlanda, era uma ilha pacífica e bastante serena, onde os poucos habitantes tiravam o seu sustento da pesca.
     Eram honestos e trabalhadores, além, de tementes a Deus.
     Tudo ia bem, até que começaram a surgir fatos estranhos, que vieram amedrontar os moradores da ilha. A igreja se encontrava sempre repleta de fiéis aos domingos na hora do culto e o pároco já estava ficando preocupado com as histórias que lhe chegavam aos ouvidos.
     O clima em York estava muito diferente, devido às mudanças que atingiam  toda a Irlanda e que gerava chuvas torrenciais.
     Foi num desses dias, que surgiu um fato real, que assolou toda a população da ilha, causando uma enorme preocupação entre todos os habitantes.
     Tudo começou com um garotinho de sete anos, que brincava na chuva com um pequeno barco de papel de jornal, nas águas que se acumulavam nas sarjetas inundadas.
     O garotinho cobriu-se com um plástico como se fora uma capa, para se abrigar das chuvas, que já estavam ficando mais fracas, corria alegremente ao lado do barco de papel. O menino do impermeável de plástico, era Mike Salvatore. Seu irmão John Salvatore, conhecido como Richard, estava em casa, recuperando-se de uma gripe muito forte.  Richard se encontrava com doze anos.O rio subira até poucos centímetros abaixo das laterais de concreto do canal que tinha o seu percurso pela zona comercial da cidade. Naquele momento, um grupo de homens, entre eles Louis Salvatore, pai de Mike e John, removia os sacos de areia que haviam sido amontoados, na véspera, com uma pressa movida pelo pânico. Louis Salvatore, que trabalhava para a Hidroelétrica Santos, dizia que o rio estava baixando e deixaria de ser uma ameaça para a represa Santos, que se encontrava em construção.
     Agora, estava Mike, perseguindo seu barco que descia pelo lado esquerdo da rua Big Paul. Ele corria bastante, mas a água era mais rápida e o seu barco avançava velozmente. Ouviu um forte rugido e viu que, 50 metros à frente, na descida da ladeira, a água na sarjeta  encachoeirava-se para um bueiro que estava aberto. Mike se distraiu com alguns galhos secos e foi abocanhado pelo bueiro. Pairou sobre ele por alguns instantes e deslizou para o seu interior. E era para lá que o barco se encaminhava. Mike começou a chorar um pouco. Que maneira imbecil de perder um barco. Levantando-se caminhou para o bueiro. Em seguida escutou um urro, um som muito esquisito. Havia olhos amarelos lá dentro. É um animal, pensou incoerentemente, é isso aí, é um animal, talvez algum gato, que ficou preso lá dentro. Tentou ficar em pé e recuando para tentar sair, mas foi então que uma voz perfeitamente razoável e bem agradável – falou com ele, saindo de dentro do bueiro.
     Oi, Mike.
     Mike piscou e tornou a olhar. Se ele não tivesse apenas sete anos, não iria acreditar no que estava vendo.
     Havia um ser estranho no bueiro. A claridade lá dentro mal permitia enxergar, mas era o suficiente para dar ao Mike a certeza daquilo que via. O rosto do desconhecido  do bueiro era branco, havia cabelos vermelhos em cada lado da cabeça careca e um enorme sorriso. 
     O estranho tinha em uma de suas mãos um punhado de bolas plásticas, em todas as cores, como se fossem frutos  maduros. Na outra segurava o barco de papel de Mike.
     Quer o seu barco, Mike? – perguntou o estranho sorrindo.
     Mike sorriu para ele. Não podia se conter. Era o tipo do sorriso que convida a uma resposta igual.
      Claro quer quero – respondeu.
     O estranho riu.
     “Claro que quero!” Isso é bom. É muito bom! E que tal uma bola?
     Meu pai falou para eu não aceitar nada de estranho. Não posso aceitar.
     Então, vamos nos apresentar. Sou Noel, e você é o Mike Salvatore. Você é o Mike Salvatore e eu sou o Noel. Desta forma, estamos apresentados e não somos mais estranhos um para o outro.
     Pegue uma bola de ar e ainda lhe darei o seu barco. Mike foi na “conversa do desconhecido” e este conseguiu segurar um braço do Mike, puxando-o para o fundo do bueiro. 
     Mike tentou fugir, mas não teve o tempo e nem a malícia suficiente para escapar. O açougueiro imediatamente, segurou com toda a firmeza o braço do Mike, dando-lhe uma torção muito forte, que quebrou o seu braço, arrancando-o a seguir.As pontas brancas dos ossos ficaram expostas.
    O açougueiro, em seguida, colocou o Mike nas bordas do bueiro e desapareceu como por encanto. Mike estava morto.Próximo ao bueiro, passava o farmacêutico da ilha, que vendo o Mike, correu em sua direção, procurando socorre-lo, quando observou que a criança não possuía mais um braço e já se encontrava sem vida.
Levou o Mike para o hospital, porém, nada adiantou.Em seguida, telefonou para os seus  pais e procurou o distrito policial.
     Contou tudo o que viu e fez pelo garoto. O Xerife dirigiu-se ao hospital, conversou com o médico que o atendeu e mandou investigar o fato ocorrido.
     A cidade de York ficou chocada com a perda do pequeno Mike, que era muito querido pela população e se prontificou a ajudar o Xerife na busca do assassino.
     Os pais e o irmão de Mike, não se conformaram com o desaparecimento daquela criança encantadora. A sua professora lhe queria muito bem. Era um bom aluno, aplicado e educado. O pároco imediatamente marcou u´a missa na qual compareceu quase toda a população da ilha.
     Na realidade, o que aconteceu com Mike, necessitava de uma explicação bastante plausível e coerente, o que não seria fácil conseguir.
    Mas, a lição apesar de muito cruel, serviu para os outros meninos, que não mais se deixavam levar por conversas de estranhos. Esse tipo de brincadeira não mais aconteceu.
     O gabinete do Xerife passou a fazer uma série de investigações, porém nenhum resultado positivo sobre as características do ser que se encontrava no bueiro foi determinado. Pairou sobre a cidade de York, uma grande dúvida e uma situação pejorativa.
     York, era uma cidade mal-assombrada? Até o momento desta redação, nenhuma resposta pode ser dada. Então, infelizmente, paira sobre a ilha, a mancha  de cidade mal-assombrada.

Alberto Mettelo Neves

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