Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  junho de 2001

A Cadeira Elétrica 

       Esta história tem início no mês de junho do ano de 1945, no sul dos Estados Unidos, em uma pequena fazenda de exploração  mista, milho, galinhas e leite. Fazia parte da família, um cachorro sem muita raça, chamado Caçador, que apesar de não morder, fazia muito barulho. Nome bastante  inadequado.
       O proprietário, Jim Lorenço, residia na fazenda com a sua família, esposa Elisa e três filhos: Mike com 15 anos e duas irmãs gêmeas Carolina (Carol) e Elisabeth (Lisa), com 8 anos.
       Era costume na fazenda o pessoal se recolher cedo a seus aposentos, pois no dia seguinte reiniciariam a labuta no campo, com a tirada de leite, limpeza do estábulo, trato das vacas e das galinhas.
       Era uma noite quente. Carol e Lisa pediram permissão a seus pais para dormir no alpendre, que era fechado com tela e acompanhava todo o perímetro da casa. A permissão lhes foi concedida. Colocaram um colchão, cobriram-se com um lençol e dormiram rapidamente. Os quartos da casa, ficavam todos no piso superior. Não escutaram qualquer barulho que fosse estranho, nem mesmo o latido do Caçador.
 Jim, levantou-se bem cedo e foi ordenhar as vacas no estábulo. Não foi ver como  as filhas estavam. Porém, o que mais intrigou o Jim, foi não escutar qualquer movimento do Caçador. É bem verdade que o Caçador não gostava das vacas e das galinhas. Neste caso, fazia festas para o Jim e ia para a sua casinha, atrás do estábulo. Nada aconteceu.
      Após alguns minutos, Jim colocou suas botas no quartinho de despejos e se encaminhou para o estábulo. Elisa desceu e foi preparar o café da manhã. Colocou na frigideira, os ovos e o bacon, para fritar,logo em seguida preparou a mesa, colocando a broa de milho, o pão de centeio e o leite fervido. Tudo estava delicioso.   Com o odor todo especial da fritura, o Mike resolveu a descer. As irmãs não apareceram. Elisa, então foi procurar as meninas; não as encontrou. Mike foi buscá-las e voltou pálido como uma folha de papel em branco. Elas haviam sumido. Elisa e Jim, não tiveram café matinal, aquela manhã. Elisa estava mais zangada do que preocupada, pois entendeu, que as gêmeas saíram pelos campos orvalhados, para colher flores silvestres, que eram muito bonitas.
       Voltou para arrumar o colchão e a colchas, que estavam jogadas em um canto. A porta de tela, havia sido arrancada da dobradiça superior e se encontrava pendurada e torta no portal.
       Encontraram também, enormes manchas de sangue, tanto nas táboas do alpendre, como nos degraus em frente à porta mutilada.
 


A busca



      Jim pegou um rifle calibre 44 que se encontrava municiado e bem guardado no quartinho de despejos e entregou ao Mike um rifle calibre 22 que seria o seu presente de aniversário no mês de julho.
      Elisa ficou com medo que os dois, pai e filho, saíssem à caça do ou  dos criminosos, pois eram agricultores e não caçadores.
      Percorreram toda a área em torno da casa e encontraram o Caçador com o pescoço quebrado e a cabeça totalmente virada para trás. Por essa razão, ele não havia dado qualquer sinal de vida.
      Jim e Mike saíram em direção dos pastos, onde havia algumas pegadas em uma trilha, em uma trilha feita pela passagem de um homem. Mike encontrou um pedaço de pano da camisola da Carol.
      Elisa foi ao telefone e pediu uma ligação urgente para o escritório do Xerife. Esta a atendeu e fez-lhe algumas perguntas de rotina, que são normais nestas situações. Em seguida, o Xerife saiu e foi providenciar uma patrulha para efetuar buscas, levando também, vários cães de caça  para ajudar.
     Eram quase oito horas da manhã, quando o Xerife McCollins chegou com o pessoal. Solicitou ao Jim e ao Mike, que descarregassem as suas armas, pois deste momento em diante eles iriam assumir as suas buscas. Os cães não paravam de latir e chegaram até o Rio Vermelho.
     Seguiram por uma trilha, mais ou menos a quatro quilômetros ao longo do rio, quando ouviram um barulho, surdo e esquisito, que não era feito pelos cães. O barulho que escutaram amais pareciam uivos. Perceberam então, que era um homem. O Xerife liderando o grupo, que se encontrava tomado de terrível medo, tinha todas as armas preparadas para qualquer eventualidade.
 

       O homem de descomunais proporções, que ninguém ainda havia visto e enormes pés descalços, vestia uma roupa “Jeans”, toda desbotada e manchada de sangue. Em cada braço, ele trazia u ´a menina nua, loura e de cabelos encaracolados que estavam grudados na cabeça. O homem uivava e as lágrimas desciam. Apresentava no rosto, uma expressão de profundo sentimento. As crianças estavam estupradas e mortas.
       O pai das meninas teve o ímpeto de agredi-lo, mas foi contido pelos homens do Xerife.
       Este perguntou ao homem – qual é o seu nome?
       John Tirson. Não pude evitar, disse segurando as meninas nuas, assassinadas e violadas.
       Todas as armas estavam apontadas para ele.
       Você está preso, John; por estupro e assassinato. Não houve qualquer reação. A seguir foi algemado, com as mãos nas costas e o grupo seguiu para o escritório do Xerife. Lá chegando, foi colocado em uma cela, sozinho, aguardando que o processo fosse encaminhado à Justiça e esta determinasse o dia da audiência e julgamento, o qual foi anteriormente marcado para o mês de julho.
 


O julgamento



       No mês de julho, conforme a determinação da Justiça, aconteceu o julgamento de John Tirson.
       O corpo de jurados, ficou receoso, que algo lhes acontecesse, pois não havia condições humanas de segurar  aquele homem. O Juiz determinou ao Xerife, que a segurança fosse reforçada.
       O julgamento teve início e a palavra foi concedida ao Promotor  Público, que logo descarregou uma bateria de perguntas ao prisioneiro, conseguindo, comover o corpo de jurados.
      A defesa, oferecida pelo Estado, ficou inerte ao ataque do Promotor e não teve sucesso ao tentar derrubar os argumentos da Promotoria.
      Nada mais havendo a tratar, o Juiz determinou que o corpo de jurados se retirasse do recinto, para a votação, em separado, em uma dependência anexa.
       No seu retorno, foi entregue ao Juiz, a sentença, pela qual eles haviam decidido.
 

       O Juiz, determinou que o John ficasse em pé, para receber a sua  sentença e que o Magistrado passou a leitura: “o corpo de jurados decidiu pela pena de morte ao prisioneiro, John Tirson, que seria encaminhado à penitenciária Estadual, onde havia a "cadeira elétrica”.
 


Penitenciária Estadual



       Cumprindo as determinações do Juiz, em função da decisão dos jurados, John Tirson foi encaminhado, sob forte escolta policial, para a penitenciária estadual.
       Ao chegar foi recebido pelo policial Morris, Chefe da Penitenciária, mais uma escolta de seis guardas.
       John foi colocado em uma cela que mal o cabia. O prisioneiro teve que entrar agachado e sentou-se no catre.
       O Chefe Morris foi conversar com ele. Entrou na cela e determinou que ela fosse fechada. Perguntou-lhe o nome e pediu para ele contar como tudo havia ocorrido. Após o relato, abriu a cela e saiu, dizendo ao John, que se ele precisasse de alguma coisa, deveria mandar chamá-lo.
       A penitenciária tinha mais dois casos a resolver antes do John, os quais também seriam encaminhados para a cadeira elétrica. O terceiro, ainda não tinha a data marcada, que seria o gigante.
       Três meses após, em outubro,foi definida a execução. A data exata foi 15 de outubro.
       Todo o tempo, o Chefe Morris passou conversando com o prisioneiro,pois não estava ainda convencido da “culpabilidade” do John. Solicitou a alguns amigos, que residiam próximo à cidade de origem do prisioneiro, várias informações sigilosas, resultadas de apuradas investigações, para comparar com as declarações prestadas pelo prisioneiro.
       Então, o Chefe Morris chegou à conclusão de que o John não havia praticado os delitos que lhe foram imputados. Os crimes foram praticados por um dos sentenciados que já havia ido para a cadeira elétrica anteriormente. Ao lado desta conclusão, havia o comportamento exemplar do John na penitenciária.
 

       Juntou todas estas informações e as enviou para o Juiz, que determinou a revisão do processo e informou ao Gabinete do Governador. A comutação da pena dependia exclusivamente de um ato do Governador, que nenhuma  providência tomou, pois o sentenciado era “negro” e naquele Estado havia o sectarismo racial, embora aceitasse as  justificativas do Juiz.
       John, no dia 15 de outubro foi para a cadeira elétrica, sendo assim, banido da sociedade.
       Logo a seguir, o Chefe Morris pediu demissão do Serviço Público. Atualmente, ele vive em um “abrigo para velhos”, remoendo ainda o fato de que um inocente foi excluído da sociedade, sem dó e nem piedade, apenas pelo simples fato de possuir uma pigmentação diferente dos brancos. Nem sempre a cadeira elétrica é a solução.
É inconcebível que a decisão pela remissão da pena dependa de apenas uma cabeça, que por sua vez, vai depender de sua fraquezas humanas e não de um ato de análise fria e coerente, que realmente seja correto, independente de quaisquer sectarismos, sejam eles, racial,religioso ou outros. O Governador do Estado. Cabe uma prolongada reflexão.

Alberto Metello Neves

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