Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  junho de 2001

Um intervalo para a miséria

               Hoje peço mais um dia de trégua nas considerações que comecei a fazer sobre a cidadania que devemos exercer e no critério mais justo que os políticos devem seguir. Dessa vez não é para apreciar a natureza e expor minha poesia que tanto gosto. Infelizmente não. Mas para chamar a atenção sobre uma reportagem que vi há dois dias no Jornal Nacional sobre a miséria que grassa em nosso país. E da qual me envergonhei apesar de saber de tudo que se passa.

            Nunca presenciei uma guerra. Mas sei dos seus efeitos desesperadores. E de repente senti que talvez tivesse vivendo numa delas, vendo crianças, pele e osso e seus pais também com fome, sem ter o que lhes dar para comer. Mães chorando à procura de alimento para que as crianças possam sobreviver. E se conseguirem, sofrerão de raquitismo, problemas de crescimento, anomalias mil, que infernizarão o resto de suas vidas. Isso se escaparem do marasma da fome e do desespero que ronda pessoas de um país que sabemos produtivo o suficiente, para que seja erradicado esse fantasma.

          Ao contemplar horrorizada as crianças cujas costelinhas apareciam debaixo da pele muita fina, ao ver o sofrimento dos adultos impotentes e frágeis em suas vidas miseráveis pela falta da mais básica condição de vida, as panelas velhas e vazias e um grude de resto de comida que seria oferecida aos filhos como último alimento existente ali, senti uma súbita e terrível depressão. Mas principalmente por ter conhecimento  da opulência de  pessoas que exploram covardemente o povo. E minhas reflexões só me levavam à tristeza a que esse país chegou. As cenas que eu vi pareciam as pessoas cujas fotos foram tiradas em Biafra. Amargurantes e estarrecedoras!  

          Isso tudo creio, que é a recessão tomando conta do país.Enquanto não houver empregos e salários estáveis essa situação só tenderá a se agravar. Frentes de trabalho não resolvem a situação. Agem como paliativo. As pessoas trabalham seis meses e voltam a ficar sem emprego e agravada ainda por compromissos de sobrevivência assumidos.

    Só estabilizaremos razoavelmente com salários diretos e estáveis. Economistas, psicólogos, sociólogos e tantos outros, falam muito em política de distribuição de rendas. São acordes que somente uma política de distribuição de renda seria capaz de eliminar a situação flagelada que se encontram mais de trinta e cinco milhões de brasileiros muito abaixo do nível de pobreza, efetivamente na miséria, mas não indicam uma forma objetiva. Creio que a melhor política para distribuição de rendas será pelo incentivo mesmo oficial da criação de empregos. Consiste em incentivar aos que detém empregos que adicione mais um, até com incentivos fiscais. E aqueles que não tem postos de trabalho, que crie pelo menos um..

         Como exemplo da mais fácil criação de um posto de trabalho será a contratação de empregos domésticos com carteira assinada, recolhimento da respectiva previdência, pagamento de todos os direitos cujos custos poderiam constituir parcela dedutível do imposto de renda da pessoa física, adotando-se o mesmo critério da atividade empresarial.

      Em síntese criando empregos aumenta a renda, em conseqüência a capacidade de consumir e finalmente poderá contribuir para a elevação da arrecadação de impostos.

Não sou nenhuma técnica no assunto, mas observo o que está a meu lado com muita atenção. Outras idéias e manifestações poderão ir se agregando até chegar a uma solução que reduza efetivamente a fome. Conclamo a cerrarmos fileiras contra ela. 

        Gostaria que nossos dirigentes pensassem um pouco menos neles mesmos e atentassem para o problema mais urgente do Brasil: A Fome. A fome que cresce devastadoramente e entristece um país rico e fértil cuja prodigalidade da natureza  é imensa. Basta explorá-la.  Parafraseando o escrivão Pêro Vaz de Caminha ao comunicar ao Rei de Portugal a descoberta de novas terras "Terra roxa, terra boa que plantando a tudo dá".

        Seremos felizes no momento em que pelo menos os nossos políticos pensarem nessa fome que ronda a maioria dos brasileiros. Pelo menos pensem e reflitam que ninguém pode ser feliz e auspicioso tendo a seu lado um irmão de caminhada, cuja miséria é tão grande que nem um grito de socorro é capaz de emitir nesse momento de tristeza pela fragilidade que a fome lhe confere.  Por isso pedi um intervalo para a miséria, falando, gritando e implorando  a quem pode ter alguma influência que se mova em defesa de nossos concidadãos, lamentavelmente abatidos pelo espectro terrível da fome.

Vânia Moreira Dinizx

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