Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  maio de 2001

Somos tão Poucos

Amanhã seremos somente minha filha, meu filho...e eu. Nada parecido aos antigos almoços em casa de minha mãe, quando ela nos recebia um pouco tímida pelas homenagens ao dia dela: mamãe preferia dar a receber. Sempre retribuiu meu presente: afinal, eu também era mãe. Ela era delicada como um anjo. Era uma fada: onde colocava as mãos as coisas ganhavam charme, elegância e sempre, sempre, um toque de profundidade. A seu casamento ela deu o mesmo toque, às duas filhas que gerou e aos netos, sempre os melhores, ela viveu nessa certeza, e morreu quando começou a duvidar disso. Dessa criatura corajosa nasceram dois seres nada comuns: minha irmã e eu. Nunca nos amamos, pois éramos ambas muito intensas, cada uma a seu modo, diametralmente oposto. Uma veio para desmistificar, a outra para quebrar. Trazíamos uma bomba dentro de nós.

E agora que mamãe morreu, não há por que fingir: restaram dos velhos tempos meus filhos e eu. Amanhã vamos estar juntos os três, e eles certamente vão me entregar um cartão, tenho até uma pasta especial para guardá-los... e um presente comprado com carinho. Vamos tomar cerveja e vou preparar sardela com pão italiano. No almoço, lasanha e frango, e de sobremesa, torta de aveia e nozes. Não como nada disso, estou de regime, mas vou tomar cerveja e vinho, uma salada e toda a alegria que houver na mesa. Por sermos tão poucos, nossas datas são relíquias preciosas. Não deixam frustrações, nem gosto amargo no final do dia. São celebrações do que construímos do nosso jeito: transparente, honesto, justo. Que todas as mães compartilhem de minha boa sorte: lembranças maravilhosas e um presente perfeito.

12/05/2001

Clélia Romano

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