Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  maio de 2001

O teu corpo e os invernos...

   Acordei hoje, com o gosto suave da noite anterior...As flores estão alegres com o branco do sorriso, mesmo na varanda onde o frio de Campinas é mais intenso. 
Tu não receberás esta singela carta de amor, pois tenho medo de que tudo acabe e eu tenha me entregado em excesso a ti. A noite foi sem sexo, mas tinha o perfume dos bons momentos... Colibris abraçados embaixo do lençol num aquecedor natural e abraços delicados de quem compreende que as rosas são delicadas, as pétalas, fragilidades do ser... Serão frágeis?? Acho que não, amor. Elas suportam o frio da varanda e hoje geou lá fora. O nosso amor: que seja eterno enquanto dure, como já disse Vinicius. Desculpe-me por trazê-lo para nossa cama, ciúmes bobos: a realidade é tão linda se for como a noite anterior... 
   O vento frio passando pelas pequenas frestas da janela e minhas mãos delicadas sobre tua cabeça e desta vez, quem te protegia era eu com aquele abraço profundo que parecia uma lareira aquecendo o inverno deste ninho... 
 Sentimentos nos bicos dos colibris: eu gosto de repetir aquele eu te amo, euteamo, euteamo até o amor esquentar as asas, mas por medo de que tudo termine, não te entregarei estas palavras, assim tão confidentes... Mesmo sendo tão passarinho, já vi tantos perfumes exalando, o para sempre evaporando... O passarinho voa, voa, bate as asinhas até em outros ninhos, mas reconhece que o ninho que deseja para ele é embaixo do lençol num aquecedor natural e abraços delicados de quem compreende que as rosas... Sentimentos nos bicos dos colibris: tu sabes o que Manuel Bandeira falou sobre amor??? "Antes, todo ele é gosto e graça/Amor, fogueira linda a arder!/Amor-chama,e,depois, fumaça". 
   Esqueça Manuel Bandeira, tu és minha chama. Tu foste minha chama por seis anos, mas tenho medo da fumaça, pois meu nariz já respirou a dor de uma nuvem passageira e eu sofri tanto quando vi a fumaça sumindo no espaço. Por esta razão, eu escondo esta verdade de ti e de todos os meus amigos: tu és a beleza de minha vida, a razão mais nobre da minha existência. Tu fazes o , não te mostrarei essa carta...

Antoniella Devanier 

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