Apelo

Veraneio:
sinto calor e sede.
Um ardor de febre
corre por entre meus veios.
Venho de uma tristeza infinita,
de alegria pouca
e, antes que se revele à luz do dia
a sombra da minha agonia,
rogo que laves meu corpo
e refrigeres minh'alma aflita
com os frescores de tua boca.
Hiberno:
Trago bem dentro da alma um frio
[rigor de inverno
em ânsia louca pelo teu beijo].
Rogo que aqueças meu coração vazio
com os calores do teu desejo.
Trago este peito recoberto em cinzas
[mal apagados fogos]
e antes que me saiam pelos poros
escorram por minha pele
explodindo em chama viva
em ardente lava
rogo que me guies por minhas cavernas
e que me aplaques a angústia interna
que minha garganta trava.
Escureço:
Trago uma noite negra
fluindo pelo meu sangue.
Tenho a alma aflita e o corpo exangue
a resvalar por abrolhos.
Ilumina minha vida triste
com a luz serena
desses teus olhos.

Maria Esther Torinho