Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
maio de 2001
APAGARAM-NOS
Na época do milagre econômico, com sobra de dinheiro na
Europa, o Brasil acabou sendo importante tomador com aplicação
em investimentos – alguns perfeitamente dispensáveis — que visavam
o desenvolvimento energético do país.
Houve grande ufanismo quando em 29 de abril de 1973 surgiu a empresa
Itaipu Binacional, da associação das Centrais Elétricas
Brasileiras S/A com a Administración Nacional de Eletrecidad, do
Paraguai, com objetivo de produzir 14.000 megawatts de energia elétrica
utilizando as revoltas águas do Rio Paraná.
O slogan utilizado na época é que seria — ainda o é
— a maior hidroelétrica do planeta e responsável pela produção
de ¼ da energia consumida no país, já que compraríamos
45% da produção excedente não utilizada pelo Paraguai,
dos 50% que lhe cabia. Ainda compramos tal percentual.
Todos os governos desde então, sempre se gabaram de que o Brasil
era um grande produtor de energia elétrica, já que nossos
recursos hídricos eram racionalmente utilizados pela quantidade
de hidroelétricas existentes no país e que nunca teríamos
problemas nessa área.
Afora um ou outro investimento desnecessário, os políticos
sobreviventes dos governos do regime militar sempre justificaram nosso
alto índice de endividamento externo com as construções
de hidroelétricas que garantiriam por séculos nossa capacidade
de produção de energia elétrica.
Os governos democráticos que se seguiram entoaram a mesma cantiga:
"O Brasil jamais terá problemas na área de energia elétrica,
pois produzimos mais do que necessitamos. Devemos, isto sim, investir na
prospecção de petróleo que é o grande fantasma
do século vinte".
Entramos no século vinte e um, menos de 30 anos depois e vamos
experimentar toda uma mudança de vida, em todo país, com
o racionamento de energia elétrica e os percalços que isso
ocasionará.
É o "apagão" do futuro, para eles, ou o desastre energético,
para nós.
Todos os governos que se seguiram desde 1973 jamais investiram um único
centavo na geração e principalmente na distribuição
de energia elétrica produzida por nossas dezenas de hidroelétricas.
O grande problema não foi só a insuficiente geração
de energia por falta de construções de novas usinas, mas
sim, e o mais importante, o desleixo e incompetência de nossos governantes
que nunca imaginaram que energia elétrica continua não voando,
mas sim necessita de rede de distribuição do produtor para
chegar ao consumidor final.
Há mais ou menos três anos, quando finalmente o governo
atual - através de seu Ministério de Energia - se deu conta
disso, tentou as pressas repassar à iniciativa privada a construção
de usinas termoelétricas para evitar um possível racionamento.
Por desculpas apresentadas agora, as construções não
saíram do papel por problemas de câmbio, já que os
investimentos seriam em dólares e as receitas em reais e não
haveria possibilidade financeira de subsidiá-las.
Em que pese a pseudopreocupação do governo em tratar assunto
tão sério, ao alegar que desconhecia de fato o problema e
com a construção das termoelétricas a questão
estará resolvida, mais uma vez nos trata como se fôssemos
completamente ignorantes, já que a rede de distribuição
de energia elétrica continuará a ser a mesma.
O sistema de transmissão de energia em nosso país é
interligado e está completamente estagnado. Não há
como distribuir mais energia elétrica a ser produzida através
de usinas movidas por qualquer veículo como calor, água ou
urânio, se não houver um maciço investimento na aludida
distribuição.
Para que o problema seja efetivamente resolvido, inicialmente é
necessário que o governo seja transparente e a verdade seja o norte
de suas ações políticas. Em seguida, delegue à
iniciativa privada a construção das usinas termoelétricas
- com o controle do preço das tarifas de energia - e ato contínuo,
sem mais demora, redirecione recursos para a ampliação das
redes de transmissão.
Para que se tenha noção do montante financeiro da construção
e ampliação das redes de transmissão, além
do material e mão-de-obra, é necessário ter recursos
para pagamentos das áreas a serem desapropriadas e utilizadas em
imóveis de particulares, já que energia elétrica é
que nem água, necessita ir pelo caminho mais curto.
Com essas medidas, ao invés de se preocupar em barrar no Congresso
a instalação de CPI's da corrupção com alegação
de que seria palanque político para a oposição, o
governo - de fato - estaria governando para seu povo e não para
seus pequenos e mesquinhos interesses.
É necessário que a população tenha consciência
do que é ficar sem energia elétrica por algumas horas. Não
é nada romântico, nem haverá jantares a luz de velas,
mas sim saques, depredações, fugas de cadeias, acidentes
de trânsitos e o mais triste, mortes em hospitais que não
possuem geradores próprios.
Isso é "Apagão". Durma-se com um barulho desse.
14/05/2.001
Douglas Mondo |