Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  maio de 2001

Aquarelas de mim 

Nasci branco: 
reluzente de vida,
fui cristal que brilhava
que brindava
à grandeza da vida.
Pouco mais tarde fui verde
e vicejei em veios de esperança.

Em outro momento
fui o rosa adolescente:
em sonhos de amor
viajava perdida.
Logo em seguida
fui fogo vermelho
fincado na flama da paixão.
E logo depois fui cinza
fui chama que finda
no fundo do coração.

Em outros momentos tantos
banhada em prantos
perdi a doçura;
fui o ocre do ódio, da amargura
enfrentei fragilidades
deparei-me com o cinza da auto-piedade.
fui o roxo da saudade.

Então perdi todo o brilho e viço, 
cheguei ao fundo do poço.
mergulhei na completa ausência de cores;
Negro, só não conheci a ausência de dissabores.

E quando pensei não haver mais cura,
vi em mim renascer uma sombra do antigo céu;
por obra de uma esquecida paleta de cores
de um anjo, atravessei a porta escura
e fiquei assim: miscelânea de dores
em tom pastel. 

Maria Esther Torinho

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