Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
novembro de 2001
O nick e o nome
Por um acaso se encontraram em uma sala de chat e descobriram
que, no passado, durante muitos anos, haviam estado nos mesmos
lugares. Talvez, uma pequena diferença de idade, insignificante
agora, mas não na juventude, tenha retardado esse encontro.
Até amigos em comum tiveram e, após muitos e muitos
e-mails, decidiram trocar fotos, que em nada ajudaram. Eles não
se lembravam daqueles rostos.
Após muitos e muitos telefonemas, marcaram um encontro
e, no primeiro olhar que trocaram, ainda na rua, se identificaram.
Sentados em um discreto restaurante, em lados contrários
da mesa, mal olhavam as fotos do passado que cobriam a toalha.
Falavam do passado e do presente, interrompidos, algumas vezes,
pelo celular dele. Ele estava em horário de trabalho e
ela planejara comparecer a um compromisso, na mesma rua do restaurante.
Antes que, ele desligasse o celular, para que pudessem conversar
melhor, ela desmarcou seu compromisso. Mas a hora da despedida
chegou e, por mais táxis que fingissem não ver,
acabaram acenando para um deles. Durante segundos entreolharam-se
calados, até que o som de uma buzina os despertasse. Após
um rápido beijo, ela entrou no táxi que, seguiu
sem rumo, por um longo tempo. Ela nada via, porque as lágrimas
impediam, e nada dizia, porque os soluços não deixavam.
No dia seguinte, por telefone, falaram pela primeira vez em futuro.
Decidiram ser amigos, somente amigos. E, durante meses, muitas
e muitas vezes, as palavras trairam suas intenções.
Sentiram ciúmes, saudade e tesão. Começaram
a trocar diálogos densos e a ficar tensos. Quando não
se falavam, ficava difícil trabalhar. Quando se falavam,
era mais difícil ainda. Começaram, então,
a se afastar, até deixarem de se falar.
Um ano após o primeiro encontro, em um dia que nada havia
para fazer, ela tomou coragem e entrou novamente em sala de chat.
Usava o mesmo nick de sempre e, passeava pelas salas, achando
tudo diferente. Quando resolveu permanecer em uma sala até
conseguir conversar com alguém, um nick chamou sua atenção.
Não era o nick que ele usava, era o seu verdadeiro nome.
Mesmo sendo um nome incomum, era coincidência demais e ela
decidiu ignorá-lo. Mas foi impossível, porque a
pessoa que usava aquele nick, imediatamente lhe dirigiu a palavra.
A cada pergunta feita, mais desconfiada ela ficava e decidiu que
iria fazer logo uma pergunta que lhe desse certeza. As mãos
tremiam enquanto digitava e a pergunta foi enviada. Mas o nick
dele havia sumido - ele caiu, como se costuma dizer em chat. Logo
em seguida, ela também caiu e, muito tempo depois, quando
conseguiu voltar, não mais encontrou aquele nick ou aquele
nome ou aquele homem.
Lenise Resende
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