Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
novembro de 2001
Foi para vocês e inspirada nas msg de Amigos que escrevi
essa croniquinha que adorei escrever, inda mais que nunca tinha
pensado na Biblioteca dessa forma.
A CERCA DA BIBLIOTECA E DE LIVROS QUERIDOS
A biblioteca de minha casa fica no segundo andar. Para chegar
a ela sobe-se uma estreita e íngreme escada em caracol,
que sai do corredor da área dos quartos. Sobe-se... como
quem atravessa um canal para nascer. Chegar à sabedoria
também é trabalhoso.
Saindo da estreita escada, depara-se com uma sala grande, vasada,
duas grandes janelas em arco de vidro, fixas, dando para as árvores
da rua, uma porta balcão também de vidro, que mostra,
no mesmo nível do piso, o salão de inverno ou de
festas, onde plantas, cadeiras de vime e algumas estátuas
de jardim surpreendem. Tudo é espaço, tudo é
aberto e visível, para quem está na biblioteca.
Dali se vê também as salas abaixo, tradicionais.
Salas de visita, de estar e jantar.
É para a biblioteca que vou à caça de algum
volume que confirme ou não, que esclareça, que alivie
ou ampare.
Embora haja sofá, escrivaninha e até televisão,
ninguém de casa fica muito lá, talvez por ser um
local que não é facilmente acessível, talvez
por ser isolado e possuir certa característica das coisas
em estado de fotografia: uma boneca do inicio do século,
sentada numa cadeira em roupas de noite, um quadro com um brasão,
um tapete de pele de onça, além de cerca de dois
mil volumes de livros, guardados nas estantes em forma de nicho
e dentro dos armários.
Sou especialmente apegada a alguns volumes que marcaram minha
vida de diferentes modos, e por vezes passar a mão em suas
capas traz à mente o clima, o perfume, a dor , o triunfo
de uma certa época de minha vida.
Quando subo lá , aproveito para transportar catálogos,
livros já lidos, que esperavam às vezes 15 dias,
ao pé da escada. Não, lá não se sobe
sem um motivo maior!
Quando trago um livro lá de cima é para lê-lo
novamente, conviver com ele mais uma vez, por mais algum tempo.
Pois, quantas vezes já não subi para buscar "A
Astrologia do Destino de Liz Greene"!
Agora está de novo comigo aqui, ao lado do micro, em meu
quarto.
Ontem adormeceu comigo. Por isso eu lhes digo: esse livro é
para ler de joelhos, ou melhor ainda: na cama!
Um bom companheiro de travessia.
Clélia Romano
|