Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  novembro de 2001

Estelionatários

O ano de 2.002 será de suma importância para o Brasil, pois haverá eleições sob o impacto da globalização econômica, das ações terroristas internacionais e da supremacia americana sobre as nações do planeta.

Pela primeira vez na história, há chances reais da esquerda assumir o comando democrático do país, com aval das mais importantes nações européias e contra os interesses da política externa americana.

O presidente Fernando Henrique, como sociólogo e humanista, demonstrou não
ter perdido as noções de política externa ao visitar países europeus que convivem democraticamente com a alternância de poder entre a esquerda e a direita, e ao discursar no parlamento francês contra a política imperialista desenvolvida pelos Estados Unidos da América e seus incondicionados aliados.

Como presidente da república, ato contínuo, demonstrou ser mero "governante de republiqueta" ao justificar sua visão de política externa brasileira anunciada em grande estilo francês, acabando por beijar a mão de George W. Bush com apoio irrestrito ao seu jogo militar imperialista.

Usou a velha artimanha política: uma no cravo e outra na ferradura. Os franceses engoliram, Bush provavelmente não.

O presidente americano deixou clara sua posição de política externa: A favor ou contra os Estados Unidos da América.

Isso não quer dizer somente em relação ao terrorismo internacional, mas sim em relação ao seu poder como maior força econômica e militar do planeta.

Se fossem adotadas regras jurídicas internacionais, com a competente apuração dos fatos terroristas que culminaram com a queda das torres americanas, haveria a instauração do regular processo legal com demonstração de culpabilidade e aplicação das penas aos responsáveis, dentro de normas de investigação, apuração e respeito à legalidade.

Como os Estados Unidos da América simplesmente determinaram a culpabilidade e a ditatorial aplicação da pena de morte aos possíveis responsáveis, bem como aos povos que são contra seus interesses imperialistas e que dão guarida aos ditos culpados, acabamos como o restante dos países do planeta: " Em tese sou contra, mas o senhor sabe o que faz".

Essa é a ordem mundial existente: A elite dominante liderada pelos Estados Unidos da América continuará mandando nas relações produtivas, comerciais e econômicas no planeta.

O direito à vida continua sob o julgo americano. Eles são a imagem de Deus sobre a Terra. Goste-se ou não.

A elite brasileira não é diferente e já deu exemplo disso ao eleger Collor de Mello, isto é, se comporta de maneira petulante à mesa e faz com que a criadagem coma as sobras. A grande diferença é que ela é a criadagem dos patrões internacionais e infantilmente não sabe disso.

Com as eleições internas se aproximando, o quadro político nacional aponta para o confronto ideológico entre a esquerda e a direita, num jogo político que mais uma vez atenderá somente aos interesses internacionais. E isso é uma tremenda ignorância política brasileira.

Se a esquerda vencer através de Lula, terá que governar sob as regras do poder econômico e financeiro determinado pelos Estados Unidos da América e nada mudará em relação à política externa brasileira e tentativa de alinhamento com a esquerda européia, já que essa também demonstrou submissão ao governo americano.

No plano interno, sua política de melhor distribuição de renda terá que ter o aval do congresso e esse fatalmente será de maioria conservadora. Haverá muitas negociações e pouco resultado, como é hoje.

Se vencer algum candidato de centro, também nada mudará já que as regras governamentais serão seguidas de acordo com as políticas interna e externa traçadas por Fernando Henrique Cardoso e também de submissão à ordem mundial existente.

Na verdade, mais uma vez, as eleições nacionais servirão para rechear os bolsos da maioria dos políticos brasileiros que fazem do processo eleitoral uma forma de enriquecimento ilícito e de difícil apuração.

Com efeito, sob o perigo da eleição de Lula, os empresários brasileiros liderados pelos banqueiros e pelas grandes empreiteiras, mais uma vez despejarão toneladas de dinheiro nos caixas de campanhas para eleição de algum candidato "afinado com seus interesses".

A maioria do empresariado brasileiro fará papel de otário sem saber, já que a vítima em crime de estelionato pressupõe tentar tirar algum proveito do "bobo" estelionatário que se apresenta como coitado na relação criminosa.

O mote será esse: "E preciso fazer alguma coisa para elegermos fulano de tal, senão corremos o perigo do Lula ser eleito e aí você já viu né!? Vai tirar tudo o que temos".

E os safados de plantão continuarão a ficar cada vez mais ricos às custas da ignorância brasileira. Todos nós já vimos esse filme.

Não há salvadores da pátria, quer sejam ideologicamente de esquerda, de centro, ou de direita.

É necessário que todos tenhamos consciência das regras internacionais, do protecionismo que os países ricos dão aos seus produtores de bens duráveis e de consumo, bem como da difícil competitividade num mercado globalizado, face nosso pouco desenvolvimento tecnológico industrial.

É necessário que todos tenhamos consciência das mudanças em nosso sistema tributário para que se torne mais justo e não ataque os salários da grande classe trabalhadora, mas sim verdadeiramente a renda de quem mais pode pagar, notadamente as grandes fortunas e o sistema especulativo.

A elite brasileira tem que ter noção que dividir não é somente ato de afetividade humana, mas sim de inteligência de sobrevivência, já que a grande massa de excluídos sociais produz um estado de miserabilidade que induz ao aumento da criminalidade.

Não adianta achar que morar em mansão guardada por esquemas infalíveis de segurança e se deslocar somente através de carros blindados fará com que não sofra ataques pessoais ou aos seus familiares. A destruição das torres gêmeas provou o contrário. Só não vê quem não quer.

Cedo ou tarde será vítima num seqüestro qualquer. Será apenas mais um entre muitos que ocorrem todos os dias.

Todos nós sabemos das mudanças necessárias para tornar este país mais justo, com melhor distribuição de renda sem desfavorecer o lucro; com um sistema educacional mais amplo e que atenda a todas as camadas sociais, já que um povo ignorante faz forte uma classe política corrupta, e principalmente, com a uma maior participação popular nas decisões de governo, através de políticas transparentes e justas.

Para que tudo isso aconteça, as eleições do ano que vem serão de suma importância, já que mostrarão o estágio cultural e político do povo brasileiro.

Se for repetido o modelo conhecido de ataque à esquerda com mobilização do empresariado contra a candidatura Lula, e o Partido dos Trabalhadores não desenvolver um plano de governo moderno e que contemple toda as camadas culturais e sociais brasileiras, posso afirmar sem medo de errar: "Elegeremos mais um governo desalinhado com os verdadeiros interesses nacionais e tudo continuará com antes".

Seja qual for o candidato que enfrentar o Lula, terá que ter um plano de governo baseado no atendimento às reais necessidades do país e não em mero discurso eleitoreiro de disputa ideológica entre esquerda e direita.

Sem um governo maduro que ataque as distorções políticas nacionais através um transparente plano de governo com negociações fortes e seguras, continuaremos a beijar a mão do Tio Sam, do Tio Banqueiro, do Tio Empreiteiro, do Tio Eleitoreiro... como um pateta qualquer.

Douglas Mondo

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