Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  outubro de 2001


O anel mágico

Há muitos anos passados, em uma pequena cidade da Arábia, havia uma família muito boa, honesta e trabalhadora. Mustafá, o pai, era alfaiate, Marina a mãe, tecia algodão e Salim, o filho, nada queria na vida a não ser, ficar ocioso.Ia crescendo com os anos e seu pai queria que ele fosse aprender o seu ofício de alfaiate, mas nada conseguia. A mãe cobria-o de bons conselhos, mas Salim não considerava. Quando o pai, em sua oficina virava as costas, Salim saia correndo, indo jogar "pelada" com outros meninos da rua, em qualquer praça da cidade.
O desgosto de Mustafá foi tão grande que em certo dia amanheceu doente vindo a falecer logo a seguir.
Marina ficou muito aborrecida e triste com a perda do marido e com o comportamento irregular do Salim.
Tornou-se um vadio completo até os quinze anos, pois não aceitava os conselhos benéficos de sua mãe. Nem a morte de seu pai, o comoveu. Continuou a jogar bola com os seus amigos.
Certo dia,jogando com os colegas, apareceu um indivíduo que chegara à cidade há três dias e ficou observando o Salim. Comentou-se que este estrangeiro era um mágico notável, conhecido por Mágico Africano, pelo fato de ser natural da África.
Por algum motivo, o Salim era observado pelo mágico: por ser
o elemento que ele precisava para os seus planos ou pelo fato do Salim ser o mais crescido da sua turma.
A verdade é que por um motivo ou por outro, que só mais tarde ia ficar conhecido, continuava a observar o Salim, além de especular sobre ele, a sua família, quem era, o que fazia, quais os seus costumes,etc.
Obtidas todas essas informações, aproximou-se de Salim, uma tarde que ele jogava.
Filho, perguntou-lhe; você não é filho de Mustafá, o alfaiate?
Sim senhor, respondeu-lhe Salim, mas meu pai faleceu há algum tempo. O desconhecido, abraçou-o, começou a chorar e ainda com lágrimas nos olhos, Salim lhe perguntou, qual o motivo daquele choro.
O desconhecido lhe respondeu: como não chorar se seu pai era meu irmão e eu sou o seu tio.


Estive na África e agora voltei para vê-lo e você me dá a notícia do seu falecimento.
Como está a sua mãe, minha cunhada?
Onde ela está morando?
Salim lhe mostrou a casa e ele disse que no dia seguinte iria fazer uma visita à sua mãe. Em seguida, meteu a mão no bolso e lhe deu algum dinheiro. Quero conhecer a casa onde meu irmão passou os seus últimos dias.
O africano saiu e Salim foi correndo para casa contar à mãe tudo o que havia ocorrido. Encontrou um tio que não conhecia e que havia lhe dado algum dinheiro, entregou-o à mãe, dizendo que o tio viria vê-la no dia seguinte.
A notícia deixou Marina preocupada, pois sabia que existiu um cunhado seu, mas que havia falecido há tempos. Contudo, poderia existir outro, que nunca falara nele.
Como prometido, no dia seguinte, o falso tio encontrou Salim jogando bola em uma das praças da cidade. Aproximou-se do "sobrinho" e lhe deu duas moedas de ouro para que fossem entregues à sua cunhada Marina para preparar o jantar.
Todas as providências foram tomadas, inclusive buscando as baixelas com os vizinhos, pois não as possuía.
O mágico se apresentou a Marina, levando-lhe garrafas de vinho e frutas, que entregou a Salim.
Disse: minha boa cunhada. Você não me conheceu porque estive, como: Síria, Egito e Índias e África. Da África resolvi voltar e morar próximo do Mustafá, porém cheguei tarde. Vi no rosto de Salim os traços do meu irmão. Isto me confortou bastante. O mágico observou que Marina se enternecia com a lembrança do marido, então resolveu a mudar a conversa.
E você Salim, tem algum ofício?
Com esta pergunta Salim ficou rubro, abaixou a cabeça e foi Marina quem respondeu por ele: é um preguiçoso este meu filho. O pai queria que ele seguisse o seu ofício, mas não houve nada que o fizesse trabalhar. Nunca conseguiu.


Peço-lhe meu cunhado. Ajudai-me a fazer o Salim sentir vergonha e trabalhar. Passo os dias fiando o algodão. Tenho a certeza que ele pode ser pessoa de bem. Ele vê, que o nosso sustento sai do meu trabalho.
Depois que Marina proferiu essas palavras entre lágrimas, o falso tio disse-lhe: assim você não vai bem, meu sobrinho. Você deve ganhar a sua vida. Existem vários ofícios a escolher. Eu vou ajudá-lo.
Em seguida foram a uma loja de roupas, onde ele mandou o Salim escolher um traje completo. Comprou-o.
Mostraram á Marina o novo traje. Ela gostou muito e não teve mais dúvidas que o africano era realmente o seu cunhado. Os planos estavam certos, até àquele momento. Conseguiu conquistar a mãe e o filho. Para ele, já era um grande passo para levar adiante o seu intento maléfico.
Saíram a passear por jardins desconhecidos por Salim. Andaram bastante até chegar a um vale muito bonito, distante da cidade, onde pararam para descansar. O tio, abriu uns panos e lá estava um lanche que comeram com muita vontade. Estavam cansados e com fome.
Depois do lanche, o africano andou mais alguns passos, afastou as folhas que se encontravam no chão, e apareceu uma porta com uma argola para levanta-la, o que foi feito. Surgiu então, uma escada que ia até um local muito profundo, onde segundo o tio, havia um tesouro escondido, mas que só Salim é que poderia ir busca-lo . O mago, entregou- lhe um anel muito bonito, dizendo: este anel é para protege-lo e evitar que algum mal lhe aconteça.
Salim, levantou a porta pela argola, descendo as escadas a seguir. Encontrou uma sala com muita riqueza em ouro e pedras preciosas. Encheu uma sacola que estava com ele e subiu as escadas. Como a sacola estava pesada, pediu ao tio para lhe dar a mão. O tio disse-lhe,entregue-me a sacola e depois eu o tiro daí.
Salim relutou dizendo: tire-me primeiro, que eu lhe entregarei a sacola.
O tio voltou a falar e Salim a negar. Ele não tinha idéia do valor da carga que se encontrava com ele, mas continuou a negar.A intenção do tio, era pegar a sacola com o tesouro, fechar a porta e deixar Salim preso até que a morte viesse busca-lo. Face à insistência do tio em pegar logo a sacola, Salim desconfiou que alguma coisa não estava certa. Por isso continuou com a sacola e não a entregou.

Então, o tio enfurecido, fechou a porta e Salim não pode mais sair.
Desceu, colocou a sacola no chão, sentou-se e ficou a pensar um modo de sair daquele lugar. Depois de muito pensar, colocou as mãos juntas e pediu em voz alta: "meu Deus, só o Senhor pode me tirar daqui, faça-o que serei outro homem, caridoso e trabalhador. Ajudarei a minha mãe e banirei este tio, que não é meu tio e sim, um charlatão".
Porém, ao juntar as mãos, Salim esfregou o anel que o mago havia lhe entregue e qual não foi a sua surpresa, que surgiu um duende disposto a ajudá-lo. Pode pedir, meu amo, que eu lhe ajudarei. Então, pediu para sair daquele lugar e depois, fechar a porta.Nem sentiu quando tudo aconteceu. Já estava lá fora, a porta se fechou e nem sinal do tio. Foi para casa e contou tudo a Marina. Ela ficou muito contente por Salim estar com ela.
Ele disse à mãe que tinha que sair para acertar umas contas com o falso tio. Foi até a região onde ficavam os mercadores e lá estava o africano. Não perdeu tempo. Esfregou o anel e ao surgir o duende, ele mandou que levasse o mercador daquela cidade e não voltasse. O duende cumpriu a ordem, transformou o tio em um pássaro e o carregou da cidade. Nunca mais apareceu.
Salim, muito satisfeito voltou para casa, disse à mãe que ela não iria mais tecer o algodão. Montou uma bela casa de tecidos e complementos e passaram a trabalhar juntos.
Estavam todos bem e a memória do pai havia sido resgatada, que com certeza, ele agora estaria muito feliz, pois o filho havia aprendido uma grande lição, que só o trabalho e o bom procedimento dignificam o homem. A mentira e a falsidade, apenas produzem elementos como o africano que terminou os seus dias de uma forma que ninguém sabe como. O anel, perdeu o seu poder e os benefícios foram surgindo com a força do trabalho e da honestidade. Este é o caminho.

Alberto Metello Neves

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