Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  outubro de 2001


Triste e infrutífera Violência


Vivi sempre cercada por pessoas que me cobravam confiança em tudo que fazia e esperanças no que idealizava. E muitas vezes olhava a uma distância muito grande, o que poderia acontecer num futuro que se aproximava. Hoje revendo esses valores com uma certa nostalgia, penso no cenário mundial e vislumbro a tristeza de um planeta que se contorce na incerteza do amanhã.
Procuro entender porque as pessoas pensam em se trucidarem e recordo as reflexões profundas que sempre tive em relação ao "existir". Todos caminhamos a passos céleres para a única certeza que temos que é a limitação de nossa própria vida. E as teorias se esvaem diante dessa incógnita incompreensível, mas verdadeira.
Existir é um exercício que fazemos desde o início de nossa existência e fomos de certa forma violentados na hora de nascer quando o oxigênio foi insuflado em nossos pulmões. Imagino que não tenha deixado de ser um sofrimento, o contato repentino e estranho com um mundo tão diferente do calor caricioso do útero, onde recebíamos o necessário e confortável à vida, que estava sendo iniciada enquanto crescíamos e nos formávamos.
Depois disso faríamos todo os sacrifícios necessários para preserva-la até como um instinto natural e espontâneo. E quando presenciamos tanta violência todos os valores defendidos e ensinados desaparecem como uma folha em meio à tempestade.
Atualmente vivemos sem saber ao menos se a agressão dolorosa, inútil e infrutífera qua assola nosso mundo contemporâneo, rompendo com todos os preceitos de amor humano e de direitos inerentes, continuará a castigar a humanidade que caminha sem a convicção ou nenhuma firmeza.
Atualmente abdicamos dos direitos de cidadão como se eles fossem privilégios e não um bem inalienável.
Atualmente encaramos com naturalidade barbarismos que anos atrás não seríamos nem capazes de pensar.
Atualmente estamos a um passo de um precipício hediondo, que na escuridão não nos poupa nem da dúvida, nem da dor de ver pessoas queridas abatidas por esse mal.
Atualmente encaramos a vida como se ela fosse um jogo em que estivéssemos empenhados, e no qual pudéssemos de repente perder o bem maior.
Atualmente a esperança não faz parte mais dos sonhos de muitos adolescentes, que descrêem de um povo e de uma nação, que não lhes dão garantias do amanhã próximo.
Atualmente presenciamos cenas de barbarismos jamais imaginadas em filmes de terror.
E pergunto-me, fora os motivos econômicos e políticos para os dirigentes das nações que se empenham nisso, e que na verdade não deviam contar, quando se tratam de seres humanos, Por que? Por que tudo isso? Porque a devastação, a miséria e o desespero?
Por que provocam uma guerra em nome de um país e de uma honra que serão massacradas pelo sacrifício de milhões de pessoas abatidas covardemente? Por que?
Nesse século cujos inventos importantes e tecnologia apurada deviam resgatar o sacrifício empreendido para chegarmos até aqui, começamos com o horror e a humilhação que presenciamos nesse mês de setembro primaveril, no qual a beleza das flores e da natureza nos deviam levar a um clima de harmonia e doçura. Mas só vemos o espectro amaldiçoado da fome, miséria, indiferença, frieza, violência ultrajante e inútil e agora a guerra.
Triste e doloroso pesadelo macabro de um século que se inicia.

Vânia Moreira Diniz

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