Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  outubro de 2001


O garoto Sétimo

Sétimo era o último de uma família de sete filhos que morava no alto sertão nordestino, em Pernambuco. O pai chama-se Pedro, a mãe Astrogilda. Os filhos: Cícero, Lucas, João, Joaquim, Marilda e Lurdes, além de Sétimo.
O mais velho era o Cícero, com catorze anos e a diferança para os demais era de um ano. O Sétimo estava com oito anos.
O Pedro era agricultor, pequeno e praticamente sem recursos. Sobrevivia com uma pequena roça de macaxeira e feijão de corda, que mal dava para o sustento das nove pessoas.
A sua casa era de pau-a-pique, toda revestida de barro com apenas três dependências: uma pequena sala de entrada, com mobiliário de caixotes e um pequeno fogão à lenha. A segunda,era o quarto das meninas e a última, o quarto dos rapazes. Todas as dependências eram de chão batido e dormiam, os menores nas redes com seus pais, enquanto os outros sobre aqueles cobertores "seca poço",estendidos no chão. Como os espaços eram muito modestos, deveriam se ajeitar da melhor forma que encontrassem.
As suas necessidades fisiológicas eram feitas em uma fossa séptica, cercada de bambus, que se encontrava distante da casa.
A iluminação era feita com candeeiro, quando conseguiam comprar o querozene com a venda de algum produto que saia de sua lavoura. Quando não, faziam fogo, fora de casa, com restos de madeira encontrados por perto.
A carne era só de caça, normalmente calangos, que existiam em profusão naquela região. O leite, muito pouco, vinha de duas cabras, mantidas com a rala vegetação existente. O seu rebanho possuía também, um macho, que repartia com as cabras a "ração" encontrada.
Sétimo era um menino sub-desenvolvido e não poderia ser o contrário,bastante franzino, mas sempre disposto a auxiliar os seus pais. Era o mais ligado à família. Só pensava coisas boas, quando os outros seis,só clamavam da má sorte.
Certo dia, passaram por lá, algumas pessoas do Governo para fazer o censo. Levantaram toda a situação sócia-econômica da família do Pedro.
Estes funcionários do Governo se encontravam hospedados em uma fazenda
distante cinquenta quilômetros dali, que pertencia a um abastado senhor de engenho, o Coronel Tibúrcio.
Ao retornarem, contaram ao Coronel a triste história daquela família. O Coronel nada disse, apenas escutou.
No dia seguinte, entrou em sua pick-up e foi procurar o Pedro, na região denominada Córrego Raso.
Ficou horrorizado e ao mesmo tempo, penalizado. Não se conformou com aquela miséria extrema.
Aproximou-se, foi recebido pelo Pedro e Astrogilda e em seguida, ficou conhecendo os demais integrantes da família, os sete filhos. Gostou muito do Sétimo, que apesar de ser muito retraído, o que era normal, viu que poderia dar uma chance de trabalho para o casal, Pedro e Astrogilda e além de encaminhar todas as crianças.
Resolveu fazer uma proposta ao Pedro. Vocês vão todos para a minha fazenda a uns cinqüenta quilômetros daqui e vão trabalhar comigo. O Pedro vai para a ordenha das minhas vacas e ajudar em todas as operações com elas. A Astrogilda vai ajudar a minha mulher nos trabalhos de arrumação de casa e na cozinha, junto com a Maria. As filhas maiores vão trabalhar nas lavouras de cana e cereais e os filhos menores,vão todos para a escola.
O Sétimo vibrou com a proposta do Coronel Tibúrcio e falou: "vou estudar e aprender algum ofício para melhorar na vida e ajudar minha família". O Coronel gostou muito das palavras do Sétimo e viu que o "moleque" tinha futuro. Ficou muito satisfeito em levar essa família para a sua fazenda.
Prometeu que no dia seguinte viria um caminhão logo cedo, para transportá-los para a Fazenda Mandacaru.
Aconteceu.
Embarcaram todos, contentes e felizes e cantando pelas estradas poeirentas, iam louvando a Deus pela imensa graça recebida através da proteção do Padrinho Cícero, de quem eram devotos fervorosos.
Vida nova para todos. A felicidade era geral.
O Sétimo cumpriu a sua palavra. Estudou bastante, terminou os estudos na escola da fazenda e se encaminhou para uma escola agrícola da região.
Tudo ia bem. O seu curso médio também foi concluído com louvor. Era um aluno assíduo e cumpridor dos seus deveres, além de ser muito responsável.
Teve todos os méritos como estudante.
Ao terminar o curso técnico agrícola, o próprio colégio o recomendou para uma Faculdade de Agronomia, na Capital.
Sempre disposto a atingir a sua meta, não se esquecia em momento algum das promessas feitas à sua família e ao Coronel.
As suas irmãs se casaram na fazenda mesmo com lavradores como eles, mas todos honrados e trabalhadores.
Os seus irmãos continuaram na lavoura e receberam como prêmio do Coronel, pela sua dedicação e fidelidade, alguns alqueires de terra para a sua própria subsistência. Olhavam pelos pais, que não mais se encontravam na fazenda, pois foram trabalhar as suas próprias terras.
Sétimo se formou em Agronomia. Numa oportunidade com a ajuda do Coronel Tibúrcio, que já se encontrava bastante idoso, adquiriu algumas glebas de terras em uma região bastante próspera do Estado, na zona da Mata.
Preparou as terras, casou-se com a filha de um fazendeiro, Coronel Medeiros, outro grande latifundiário da região e levou seus pais para a Fazenda Bonanza, fruto de grandes sacrifícios e ferrenha luta pela sobrevivência.

Alberto Metello Neves 
 
 
 
 
 

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