Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
outubro de 2001
O bem-aventurado
Na vida de muita gente existem momentos bons e momentos maus.
Porém, algumas pessoas parecem que já são
predestinadas ao infortúnio, como é o caso do Antonio
de Paula, que vamos contar a seguir.
Antonio de Paula, era um sujeito bem apessoado, trabalhador, honesto,
vivia bem com a família. A esposa Maria trabalhava em casa,
pois era uma excelente dona de casa, os filhos Marcos com dez
anos e Mateus com oito, estavam em um Colégio particular
e iam bem nos estudos.
As relações com os visinhos eram as melhores possíveis
e deles ninguém tinha queixa no bairro.Eram pessoas que
faziam as suas compras a crédito na quitanda, no armazém,
na padaria, na farmácia do bairro e outras casas comerciais,
porém nunca deixaram de cumprir os seus compromissos.
Certo dia, parece que houve uma catástrofe na vida de Antonio
e Maria. Para começar, Antonio foi despedido do emprego,
por excesso de pessoal e o faturamento da empresa não ia
muito bem. Cortes de despesas. Lá vai o Antonio para a
rua.
Chegou em casa e contou à Maria o ocorrido. Esta ficou
triste e preocupada, porém, procurou acalmar o Antonio.
Algumas despesas já estavam vencendo, porém, existia
ainda alguma reserva para suprir as necessidades mais prementes.
Os filhos chegam do Colégio, trazendo um ofício
do Diretor. Por necessidade de manter um ensino de qualidade,
o Colégio se via na obrigação de aumentar
as mensalidades em trinta por cento.
Ainda nessa mesma noite, o proprietário da casa onde residiam,
foi visitá-los e comunicar um acréscimo no aluguel
da ordem de vinte e cinco por cento.Antonio tentou negociar, mais
o proprietário estava irredutível e nada concedeu,
apenas um prazo de uma semana para que Antonio se decidisse, aceitar
ou sair.
A dose de infortúnios foi muito forte para o Antonio. Resolveu
a sair para dar uma volta, tomar uma cerveja e esfriar a cabeça.
Foi para um barzinho da esquina, do português, e pediu uma
dose de cachaça para que a cerveja pudesse cair melhor.
Sentou-se em uma mesa e começou a ruminar aquela série
de problemas, para os quais já não via solução
alguma.
Chegou daí a pouco, o amigo Pedro e começaram a
conversar.Antonio contou ao Pedro sua bagagem de "sorte"
e o amigo começou a coçar a cabeça. Antonio,
só com a ajuda de Deus você sai dessa.Continuaram
a tomar a cervejinha bem gelada.
Após algum tempo, o amigo Pedro falou: Antonio hoje é
quinta feira e no sábado corre a loteria federal. Nessas
alturas, porque você não faz uma tentativa? Tudo
é válido. Não é ilegal e nem imoral.
Tente.
Antonio agradeceu o amigo Pedro e foi para casa. Ele não
desejava se embebedar e por isso foi ficar com a Maria e os filhos.
Chegando lá, Antonio contou á esposa o que o Pedro
havia sugerido e ela achou uma boa idéia, desde que fosse
antes buscar a proteção de São Judas Tadeu,
o protetor dos aflitos.
Como a hora já estava avançada, foram para os quartos
dormir. No dia seguinte talvez alguma outra solução
haveria de aparecer.
Levantaram cedo, tomaram o café, Antonio comprou o jornal
de empregos na banca e foi ler em casa.
Passou pela igreja de São Judas Tadeu, foi ao seu altar
e de joelhos pediu ao santo que não o desamparasse, já
com os olhos cheios de lágrimas.
Quando estava bem concentrado e de mãos postas sobre o
altar, escutou uma voz, forte e clara que lhe disse: Antonio,
você vai para casa e lá vai encontrar um grande surpresa
e ao passar pela casa lotérica deverá comprar o
único bilhete inteiro que você encontrar. Vai com
a paz de Deus, que tudo ficará resolvido.
Antonio agradeceu ao santo, pois não havia mais ninguém
na igreja naquela hora. Terminou as suas orações
e saiu.
Antonio nada disse a ninguém. Passou pela lotérica,
verificou os bilhetes e o dono da lotérica ofereceu ao
Antonio o único bilhete inteiro que lá havia. Era
o último. Antonio aceitou e comprou. Iria correr no dia
seguinte, sábado.
Chegando em casa, Maria estava toda radiante e feliz para dar
uma notícia ao Antonio.
O Sr. Jarbas, dono de outra indústria, havia telefonado
pessoalmente para o Antonio para que o mesmo comparecesse na indústria,
na segunda feira, já para trabalhar.
Antonio nada falou à Maria. Só iria contar depois
que tudo se realizasse.
Porém,tomou café depois de abraçar e agradecer
à Maria, saiu novamente e se encaminhou para a igreja de
São Judas Tadeu, onde agradeceu ao santo todas as benções
que lhe foram concedidas, prometendo que trinta por cento do valor
do prêmio do bilhete que iria correr no dia seguinte, se
desse, seriam doados à Santa Casa de Misericórdia,
que estava atravessando uma fase bastante difícil.
No dia seguinte, sábado,o almoço foi melhorado.
O emprego na fábrica já estava garantido.
Quando chegou a tarde, a Caixa Econômica Federal, fez o
sorteio da loteria.E como não podia ser diferente, o primeiro
prêmio saiu para o Antonio. O valor do prêmio foi
de cem mil reais e certamente a Santa Casa seria beneficiada com
trinta mil reais, o suficiente para liquidar todas as suas dívidas.
A segunda feira foi festiva. O Antonio recebeu o seu emprego e
mais o prêmio líquido da loteria de setenta mil reais
e ainda, a Santa Casa, trinta mil reais.
Esta é uma pequena história de um cidadão,
honesto, cumpridor de seus deveres, para com a família
e a sociedade, que teve uma fé inabalável, o que
permitiu que a proteção Divina viesse, como veio,
pois houve um forte merecimento. É bonito isto.É
um exemplo a ser seguido. A honestidade, humildade e uma fé
inabalável, permitiram ao Antonio, reconstituir a sua vida,quando
tudo parecia perdido. É um fato que pode ocorrer, se houver
merecimento.
Alberto Metello Neves
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