Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  setembro de 2001

Crônica, apenas um crônica

Ao passar pelo largo do Arouche em São Paulo, entro em uma casa de "Pão de Queijo" lá existente para tomar um cafezinho. Na realidade estou buscando algo que me dê inspiração para mais uma crônica. Se a inspiração não vem, fica muito difícil escrever e é isso que eu estou passando. Quero encontrar alguma coisa dentro de cada um, que faça parte do seu dia a dia.
Na esquina, dentro de um bar, em uma casa de lanches ou então eu perco o essencial. Não tenho nada para contar, então tomo o meu café. Lanço um olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
O que vejo são pessoas transitando em todos os sentidos, algumas entrando em uma casa comercial, escolhendo um artigo para presentear alguém, talvez ou mesmo para o seu uso pessoal.Outras apenas olhando as vitrines, produtos, preços, condições, etc.
Observei que uma senhora de porte bem avantajado entrou em uma casa de sapatos. Foi atendida por um funcionário que se encontrava na porta, pois é importante ter clientes numa época como esta. A freguesa escolheu um modelo e disse ao vendedor o seu número. O vendedor foi buscar o pedido feito e voltou com três caixas.
Abriu a primeira caixa, tomou um pé, trouxe uma calçadeira metálica, e tentou colocar no pé da freguesa, o sapato.
A senhora o calçou, ficou em pé, olhou o sapato pelo espelho e balbuciou qualquer coisa ao vendedor, com certeza, que o sapato não servia pelo tamanho, formato ,ou cor ou qualquer motivo, que a levou a rejeitá-lo.
O vendedor, preparou o segundo par e colocou dentro do mesmo ritual, o segundo pé de sapato. A freguesa levantou-se, olhou para o pé com o sapato novo através do espelho. Olhou com o pé em uma posição, uma segunda posição, e teve a mesma conclusão do modelo anterior.
O vendedor, muito paciente e educado, preparou o terceiro par de sapatos que ele havia levado para a freguesa experimentar.
O caminho foi o mesmo. A freguesa calçou o sapato, levantou-se, olhou pelo espelho em várias posições, mas desta vez, o resultado foi outro. A senhora pediu ao vendedor que calçasse o segundo pé e desta forma foi observar o todo.
Pela satisfação da freguesa, o vendedor ficou contente também, pois com certeza iria aumentar um pouco o seu caixa no final do mês com mais esse acréscimo à sua comissão.
Já que tudo parecia ter dado certo para os dois lados da negociação, chegou a hora mais importante para o vendedor, o pagamento.
A senhora pediu ao vendedor que preparasse o par de sapatos que ela iria levá-lo. Tudo havia corrido bem naquele lapso de tempo.
Foram ao caixa da loja, a freguesa tirou da bolsa o seu cartão de crédito, entregou-o à funcionária, que tomou as providências e o devolveu. O vendedor, por sua vez, ficou mais satisfeito ainda, pois já tinha a certeza de que poderia levar para casa algo mais, que deixaria a sua família contente e todo este conjunto de satisfações que a faria mais feliz, iria produzir aqueles sorrisos que por vezes faltam nos lábios daquelas mais modestas.
E com esse tipo de sorriso, aberto, sincero e feliz, às vezes, com tão pouco, mas que traduzem muito, é que eu gostaria de escrever a minha crônica.

Alberto Metello Neves

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