Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
setembro de 2001
O Homem maior que o mito
O Homem atinge sua plenitude, quando sua inteligência e
suas emoções encontram-se em equilíbrio e
suas ações voltam-se para a integração
harmoniosa com outros de sua espécie, de outras espécies
e em profundo respeito ao planeta em que vive.
Nesse momento há a interação do Homem com
a vida, apropriando-se de sua plena liberdade e sua autonomia
de vontade o leva a solucionar, de maneira simples e objetiva,
todas as questões que se apresentam no caminhar de sua
sábia vida.
A alguns é dado o direito ao inconformismo, onde o dinamismo
de suas ações acarreta profundas alterações
no meio social em que vive, ocasionando mudanças culturais
que somente a história registra.
De maneira intencional ou não, o possuidor da cultura
de liberdade sente a necessidade de interferir no meio social
em que vive, tendo conhecimento interior sobre o resultado final
que quer ver, apesar de sua infinita visualização.
Tal interferência, via-de-regra, não passa pelos
meios tradicionais que regulamentam os comportamentos sociais
e culturais de uma determinada comunidade, mas sim pela ousadia
dos novos meios apresentados pelo agente da modificação.
A grande questão a ser enfrentada, é a imaturidade
daquele meio social com a
transformação do agente modificador em herói,
onde o mito fatalmente tenderá a ter mais importância
que o próprio agente.
A história registra em muitos casos a morte física
do agente modificador, quando simbolicamente dever-se-ia matar
o herói na pura demonstração de maturidade
daquele meio social.
Morre o agente, sobrevive o mito.
Todo meio social para ser alterado deve se encontrar em condições
adequadas para tanto, de maneira tal que receba satisfatoriamente
as ações modificativas perpetradas pelo ator social.
O Homem é maior que o mito, quando suas ações
baseiam-se no verdadeiro equilíbrio de sua maturidade com
o momento histórico em que vive, tendo sua alma percepção
de interação e modificação sócio-cultural,
momento único na vida daquele agente modificador.
Pela ausência de percepção dessas condições
por parte da sociedade onde houve a atuação modificativa
e pela citada falta de maturidade das pessoas que a compõem,
o mito adquire roupagens divinas e inatingíveis, por isso
a necessidade de sua morte, como exteriorização
dessa própria imaturidade.
O agente quando conhecedor da ignorância do meio social
a ser modificado, via-de-regra se utiliza, até inconscientemente,
de atuações pontuais demarcadoras de ações
divinas, reforçando o próprio mito do herói.
Com tais atitudes, certamente seguidores não faltarão
e o que se falará após a morte do Homem e sua transformação
em mito, serão verdades dogmáticas revestidas de
fé inabalável e inatingível.
Com o passar do tempo, a figura mítica crescerá
em importância tal, que tenderá, diretamente proporcional
à forma aplicada na modificação do meio social,
a atingir proporção de divindade e seus seguidores
até matarão em seu nome, se esquecendo dos princípios
básicos por ele apresentados.
Outros, de acordo com a inércia daquele meio social, embora
já alterado, usarão seu nome como modelo a ser seguido
e sua importância modificativa se perderá no tempo
como mera expressão de lamento ou de simples religiosidade.
Para nossa cultura ocidental, o maior mito chama-se Jesus de
Nazaré, o Cristo, ou Messias em grego, de forma divina
tal, que o credo a seu nome atinge milhões e milhões
de pessoas.
Inquestionável historicamente sua existência, como
inquestionável também suas ações modificativas
sociais e culturais, tendo em seu nome, infelizmente, destruídas
várias civilizações ao longo desses dois
mil anos de história da humanidade.
Afora as questões religiosas sustentadas na figura divina
do homem Jesus, suas idéias de fraternidade e tolerância,
certamente se seguidas fossem, teríamos sociedades mais
equilibradas e voltadas para a igualdade entre todos os homens,
na verdadeira utopia da solidariedade universal do Homem de Nazaré.
(Obras Consultadas: O Homem e seus Símbolos,
de Carl G. Jung; O Mito da Liberdade, de B. F. Skinner e Jesus
- Esse Grande Desconhecido, de Juan Arias).
Douglas Mondo
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