POR FIM

Quero enfim
por fim
um momento ao som de Enya
delicadamente sensista em caribbean blue
flutuando em pensamento, cúmplice do vento
quero com certo conforto.
Quero num lugar que seja longe
ou que caiba em minha mente
viajando pela fumaça
esquecido e recompensado
não ver duas rosas reluzentes
duas estruturas decadentes.
Quero o silêncio deste clamor inconfundível
bestial, inumano, inconcebível
não ver tanta dor dosada, planejada
maquiada pela fúria dos personagens primatas
tornando o sangue plástico, heróico e biodegradante
em desrespeito a dor que há pra sentir, a tristeza universal.
Quero esquecer ignorâncias absurdas
negação de dogmas, justificação de preconceitos
trapaças e credulidades impondo respeito
aniquilando semelhantes por via de regra
na cruz da discórdia desvairada, na meca dos desvairidos
simbolizando crenças adaptadas e deuses imaginários.
Quero enfim
pôr fim
nestes ignorantes traços de iluminismo de sarjeta
sem panfletar ou discutir o justo e injusto, por bem ou por mal
milhões de ideais dependendo do fanatismo de menos de cem
e depois, assim que acabar de praticar a mais nobre de minhas
necessidades básicas,
puxar a descarga, olhar o turbilhão, e filosofar que a vida é uma bosta.
O homem merece o que tanto procura... ter fim !

G. Reinicke