Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
setembro de 2001
Falência do amor
Durante esses dias vimos coisas que jamais nossos olhos presenciaram.
Acho que nem em telas de cinema.O tresloucamento, a violência
e o barbarismo tomaram conta do mundo de uma forma aviltante e
desesperada deixando-nos totalmente horrorizados. O que já
se falou dessas cenas comprova o desespero de todo o planeta embasbacado
diante de cenas inomináveis. Não temos palavras
para descrever o horror e o desespero ao ver pessoas passarem
por aquele martírio. Realmente não temos. Tudo que
já se dissertou sobre os motivos insanos e líderes
fanáticos terroristas não vou repetir.
Quero aproveitar para uma reflexão talvez menos objetiva,
mas igualmente necessária que ronda a vida de todos nós:
A falta de amor, a indiferença com que encaramos o sofrimento
de alguém, a frieza com que vemos um vizinho, amigo ou
qualquer pessoa passar por um momento difícil sem estender
a mão.Acho que desse fato redunda a grande crise da humanidade:
O egoísmo e a falta de solidariedade.
Não nos importamos com quem está a nosso lado e
passamos sem o menor sentimento por milhares de situações
em que uma palavra nossa senão resolveria, pelo menos ajudaria
alguém no desespero a se recuperar mais facilmente. A grande
e devastadora crise é a falta de amor.
Acho que não teríamos chegado a esse tipo inconcebível
e horripilante de fatos, se tivéssemos durante esse século
passado, pensado menos em nós mesmos e repudiado com mais
vigor e menos naturalidade atos de violência.Não
é utopia não. Utopia seria esquecer de nós.
Mas não estou falando disso. Amar-nos é antes de
tudo reconhecer que precisamos do outro. Como ele de nós.
Claro, temos que antes de qualquer coisa nos amar para poder alcançar
o que o outro precisa. E para nos amar precisamos nos manter alertas
e felizes vendo também a felicidade ou o alívio
de sofrimento de nosso irmão. Como poderemos ser felizes
ficando indiferentes e totalmente à parte quando vemos
algüém sofrer enquanto comemoramos e procuramos nos
divertir?
Creio que esse desejo de só pensar em nós foi aumentando
consideravelmente e chegou ao caos de loucura, abismo aterrador
que nos confrange a alma nesse dias dolorosos e cruciantes.
Fico pensando, o que poderia ter feito para evitar esses extremos
com meus atos de todos os dias e minha consciência dói
por tantas vezes que devo ter sido inconsciente, distraída,
incapaz de levar conforto a quem ao meu lado clamava por ele.
E às vezes bastaria um sorriso ou um gesto para conseguir
amenizar o conflito interior de alguém tão próximo.
Falar de paz de nada adiantará se não a tivermos
dentro de nós, na nossa comunidade e entre as pessoas que
vivemos mais continuamente. Falar de paz só terá
seus frutos quando começarmos a perdoar e conseguirmos
ter a humildade de
reconhecer nossos erros. Falar de paz só será salutar
quando não tivermos nenhum ódio no coração
e não fazermos diferenças entre pessoas que são
nossos companheiros de caminhada, falar de paz é um modo
de vida, uma postura consciente e literalmente vivida e não
apenas mensagens que introduzimos na emoção do momento.
Não tenho mais estrutura para discorrer sobre maldade que
tornou essa semana insuportável e depois de chorar abundantemente
porque não tentar mudar minhas atitudes? Por que não
ser mais compreensiva, generosa, amiga e altruísta? Por
que, pelo menos não tentar levar meu conforto e carinho
a tanta gente que precisa dele? Por que não começar
por mim mesma?
Vânia Moreira Diniz
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