Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  setembro de 2001

Só um minuto, por favor...
Dona Maria morreu...

Um minuto, por favor, é só o que peço a todos, em homenagem a Dona Maria.
Como? vocês não conhecem a Dona Maria? e a menina Fátima, seu Antônio;
conhecem? e o Marcos? Não conhecem também?
É, para dizer a verdade, nem eu,... e pra dizer mais ainda, porque verdade é assim, sempre vem acompanhada de complemento: nunca hei de conhecer a Dona
Maria, o seu Antônio, o Marcos e a menina Fátima.
Todos eles estão mortos.
E antes que me esqueça; não morreram em nenhum atentado terrorista aos Estados Unidos da América. Foram mortos aqui mesmo, na nossa linda e protegida terra 'brasilis', pelo descaso das autoridades à segurança do cidadão, pelo descuido dos governantes à saúde pública, pela falta de respeito.
Segundo pesquisas realizadas pelo professor Gláucio Ary Dillon Soares, o Brasil detém o índice de 40 mil a 50 mil pessoas assassinadas por ano. E aí, me pergunto: Onde é a guerra, afinal?
Me perdoem, se lhes pareço raivosa, egoísta, ou o que quer que seja. Mas é que ainda não me acostumei a passear incólume por ruas onde existam mendigos, homens, mulheres e crianças sem teto, sem comida, sem saúde.
Ainda não consegui absorver de forma razoável, a violência, como algo natural e que me obrigue a ficar enclausurada dentro da minha própria casa. Me solidarizo sim, com todos os civis inocentes que sofrem os horrores de atentados terroristas. Me solidarizo com os americanos mortos, com as crianças indianas, com as mulheres martirizadas de Taliban, com as Africanas mutiladas. Em nenhum momento fiz ou farei distinções entre este ou aquele povo, pois somos todos iguais e se existem culpados por todo esse terror que campeia os noticiários das últimas semanas, certamente não são aqueles que morreram ou os que supostamente comemoraram as mortes ocorridas.
Mas tendo permanecido, durantes os últimos dias, quieta, apavorada, abismada e assustada com a possibilidade de algo terrível, me peguei pensando, que já vivo em estado de guerra há muito tempo, que no País onde moro, não preciso estar longe de casa para observar que todos vivem na mais absoluta insegurança e medo constantes.
E por isso, é que hoje, somente por um minuto, quero pedir que silenciemos por Dona Maria.

Mariza Lourenço

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