Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
setembro de 2001
Detinha
A culpa foi da lua, ninguém acredita, mas foi.
Nunca que uma moça podia ter saído descabelada no
meio da noite, com as
vergonhas de fora. Pois sso aconteceu com Detinha, professora
da criançada
da fazenda, e filha da terra.
Judiação a pobre moça, tão bonitinha
e séria, se acabar assim feito louca.
Até o padre chamaram, porque parecia obra do "coisa"
ruim. Já lá iam dois
meses que Detinha andava estranha, com a cabeça avoada,
até os alunos
repararam que ela se esquecia de tomar a tabuada.
Coincidência ou não, toda essa esquisitice começou
quando chegou à cidade o
noivo de Ismália, prima e melhor amiga de Detinha. O tal
noivo, advogado bem
apessoado e distinto da capital, logo tomou-se de amizades pela
prima e
abraçando-a muito, dizia, entre risos, que agora faziam
parte da mesma
família.
Detinha ficara encantada com tanta educação e levara-o
várias vezes à
escolinha da fazenda, que distava vinte quilômetros da cidade.
Quando dois
meses depois a professorinha teve o ataque de loucura, justamente
no dia do
casamento da prima, todos se apavoraram, menos Ismália,
que fazendo vistas
grossas, casou-se e seguiu viagem para a capital, com o marido.
Certas atitudes são reprováveis, quem diria, a Ismália,
sempre tão amiga de
Detinha. Mas vá entender o ser humano.
Tempos depois, sobreveio novo ataque e a família, aconselhada
pelo Dr.
Raimundo, decidiu mandar a professora descansar em uma clínica
de repouso.
Voltou meses depois, mais bonita ainda e farta de seios. A viagem
tinha lhe
feito muito bem, a despeito de haver se tornado moça esquecida.
Pois não é
que havia deixado na clínica algo mais que seus ataques
noturnos? dizem até
que o "esquecimento" de Detinha costumava chorar de
fome durante a noite.
Mas quem sou eu pra levantar falso. Isso é coisa de gente
fofoqueira, de
quem não tem o que fazer.
Ismália e o marido nunca mais voltaram à cidade
e juram as más línguas que o
motivo era a falta de filho.
Ismália tinha o útero seco.
Mariza Lourenço
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