Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em
setembro de 2001
O Vale das Paineiras
Em uma região do interior mineiro, havia o Vale das Paineiras.
Cidade pequena com aproximadamente dez mil habitantes e distante
200 km da capital.Esta cidade recebeu este nome devido à
quantidade imensa de Paineiras lá existente e a cidade
era localizada em um vale mesmo.
Possuía uma Igreja e um antigo coreto bem no meio da praça
central onde aconteciam as retretas com a banda local, uma pequena
farmácia e um empório. No final da rua principal
havia o prédio da Prefeitura, o posto de saúde e
uma escola que atendia a 600 alunos em três turnos. Este
é o Vale das Paineiras.
A economia da região era formada por uma agricultura de
subsistência e uma precária pecuária de leite.
Por um golpe do destino, certo dia, Martins ficou viúvo.
Possuía três filhas.
Maria das Graças, a mais velha, pouco bonita e muito má,
era gananciosa e só desejava tudo para ela, não
colaborava em nada com as irmãs. A segunda filha, a Matilde,
era muito parecida com Maria das Graças. O seu caráter
era bastante semelhante.
Ambas, por serem as mais velhas, não aceitavam cuidar da
casa, pois diziam que não eram empregadas de ninguém.
Não trabalhavam e passavam o dia a especular a vida dos
vizinhos. Martins,ficava muito triste com o comportamento das
filhas, mas, nada dizia, mesmo porque de não iria adiantar
falar qualquer coisa.
A terceira filha, Luciana, era muito diferente. Muito bonita,
prendada, zelava pelo seu pai e suas irmãs, apesar delas
alimentarem por ela, um terrível ódio. Luciana era
a responsável pela casa, pela alimentação,
pelas roupas, enfim, era a verdadeira dona de casa apesar da sua
pouca idade.
Martins precisou ir à Capital, fazer compras, pedindo a
Luciana que tomasse conta dos negócios até a sua
volta.
Nessa mesma noite embarcou disposto a fazer bons negócios
e melhorar as condições do seu empório.
Chamou as filhas e lhes disse: vou à Capital fazer compras.
Gostaria de trazer para cada uma, um presente.
Maria das Graças pediu ao pai que lhe comprasse um enxoval
cor de rosa, completo.
A Matilde pediu um belo cordão com um medalhão em
ouro.
Quando chegou a vez da Luciana, esta pediu que se fosse possível,
lhe trouxesse um botão de rosa vermelho. Era tudo o que
queria.
O pai despediu-se das filhas e foi para a estação,
o trem já estava quase para sair.
Na noite seguinte chegou à Capital. Procurou um hotel simples
próximo à estação, indo jantar a seguir.
Deu umas voltas pelas imediações do hotel e foi
dormir, pois o dia seria de bastante trabalho.
Levantou-se cedo, tomou o seu desjejum no hotel e foi para a zona
atacadista da cidade, fazer as suas compras. Andou bastante pesquisando
os preços e a qualidade dos produtos que iria adquirir.
Aproveitou, comprou os presentes para as filhas. Encontrou tudo.
As compras para o empório, ele as fez e estava saindo tudo
muito bem. Só faltava mesmo era o presente da Luciana que
ele queria deixar para mais tarde, para o tempo não prejudicar
o botão de rosa.
Ao sair da casa onde fez as suas últimas compras, ocorreu
um incidente.
Martins estava carregando seus embrulhos e não observou
ao atravessar a rua, um veículo que passava, o qual tocou
nos pacotes, derrubando-o. Imediatamente o condutor parou e foi
prestar socorro.Levantou-o verificou que nada havia acontecido.
Fora apenas um susto.
O motorista, que era o proprietário do veículo deu-lhe
o seu cartão de visitas e se prontificou a cuidar do Martins
enquanto ele estivesse na Capital.
O seu nome era Dr. Paulo Seixas, advogado e residia em uma bela
mansão num bairro nobre da cidade. Colocou-o no seu veículo,
foram até o hotel onde Martins estava hospedado, pagou
as suas contas e o levou para casa.
Era solteiro, residindo com os seus pais. O pai era Médico
e a mãe Professora, ambos já aposentados, porém,
viviam dentro de um padrão de vida muito elevado. Paulo
já pensava em constituir a sua própria família,
o que tinha o apoio dos pais. Mas, ainda não havia encontrado
a sua companheira ideal. Mandou arrumar o quarto de hóspedes
e o Martins ficou com eles.
Conversando durante o cafezinho, Martins contou à família
toda a sua vida, como ficou viúvo,seus negócios
lá no Vale e principalmente de suas filhas. Como já
era sexta-feira, o Paulo resolveu levá-lo para sua casa
no Vale e assim, descansar o fim de semana, além de conhecer
as filhas. A hora já estava avançada e foram dormir.Levantaram-se
por volta das seis horas, tomaram um lauto desjejum e sairam.
Passando por uma floricultura, Paulo mandou preparar um lindo
buquê de rosas vermelhas. Almoçaram em um restaurante
conhecido, seguindo para o Vale das Paineiras, chegando às
quatro horas da tarde. A surpresa foi grande entre as filhas do
Martins, pois ninguém esperava uma chegada tão pomposa
como aquela.
Foram recebidos pela Maria das Graças e Matilde, que se
encantaram com o Paulo e com os presentes que haviam recebido
do pai.
O Martins perguntou pela Luciana e lhe disseram que a mesma se
encontrava no empório. Deixaram os presentes e foram para
lá.
Como Luciana estava sozinha no empório, assustou-se, quando
viu o pai chegar com um desconhecido, que trazia às mãos,
um lindo buquê de rosas vermelhas, que era para ela e que
após as apresentações, lhe foi entregue.
Luciana recebeu o presente e muito satisfeita foi correndo buscar
uma jarra com água para colocar as flores. Eram lindas
e ainda estavam, bem conservadas, apesar da longa viagem.
Enquanto isto, o seu pai ficou conversando com o Paulo. Luciana
gostou muito das flores e nunca esperou um gesto de "cavalheiro"
tão marcante como aquele.
Martins,deixou os casal conversando e foi arrumar as prateleiras.
Luciana estava sonhando com aqueles momentos tão especiais
para ela, o que era bem merecido.
O pai como era temente a Deus, sempre orava pedindo, que se fosse
permitido por "ELE", Luciana iria se casar. O moço
era bom, educado e tinha um tratamento todo respeitoso por sua
filha, o que poderia se traduzir em um bom e futuro esposo. Este
era o seu sonho e o da Luciana também. Esta pediu licença
e foi preparar um jantar para eles.
No jantar, Paulo convidou - a para uma visita à sua residência
conhecer os seus pais, pois ele desejava que este romance fosse
realmente sério. Havia gostado da Luciana e pretendia,
após o conhecimento dos pais, pedir - lhe a mão.
Esta aceitou de pronto e o seu pai a iria acompanhar.As irmãs
Maria das Graças e Matilde ficariam tomando conta da casa
e do empório. Acharam a distância muito grande e
a viagem, com certeza seria enfadonha.
Pela manhã, saíram os três com destino à
Capital. Para Luciana, aquele era um "Conto de Fadas",
que estava se materializando e a sua felicidade estava próxima.
Era o que ambos desejavam. Uma bela família viria complementar
a vida do casal. Antes de sair, passaram pela Igreja e Luciana
pediu a Santo Antonio que lhe permitisse, sob a vontade de Deus,
que o seu sonho se realizasse.
Seguiram viagem.
Ao chegar foram recebidos pelo mordomo que após cumprimentá-los,
retirou todas as malas do veículo, levando-as para dentro.
Paulo acompanhou o casal até a sala de estar, onde a sua
mãe os esperava. Recebeu-os com muita amabilidade e parece
que desde o primeiro instante, simpatizou-se com a Luciana.
A anfitriã fez questão dela própria mostrar
as dependências da mansão à visitante. Depois
que andaram bastante pelo interior da casa, foram ao jardim, que
era simplesmente maravilhoso, com piscina e viveiros de pássaros
exóticos. Para Luciana, aquele era o céu na terra.
Era o sonho de uma menina simples e interiorana, mas que apresentava
qualidades morais excepcionais e uma formação muito
forte, apesar de sua pouca escolaridade.
Por outro lado, o Martins passeava e conversava muito com o Paulo.
Neste momento, chega o pai, que ficou contentíssimo em
conhecer tão honrada família, pois o Paulo já
havia feito uma descrição minuciosa de todos. Conversaram
bastante, a Luciana já estava mais à vontade e desinibida,
o que tornava o ambiente mais cordial e à vontade.
Saíram, e foram todos mostrar a cidade ao casal, visando
principalmente os seus pontos mais pitorescos. Foram ao Shopping
Center e o Paulo resolveu presentear a Luciana com um belo vestido,
com o qual deveriam passear a noite.
Martins estava em outro mundo, dentro da sua modéstia e
simplicidade. Muito satisfeito, ao conversar com o pai do Paulo
observou que ele era um homem íntegro e de princípios
morais muito sólidos.
Foram jantar em um restaurante famoso da Capital. Todos alegres
e felizes.
Em certo momento, Paulo pediu aos demais, um silêncio rápido,
pois tinha algo a falar. Todos ficaram atônitos com aquele
pedido e logo a seguir, Paulo disse, dirigindo-se ao Martins:
"Senhor Martins, neste momento, tenho a honra de pedir a
mão de sua filha Luciana em casamento". Martins assustado,
pois não esperava tal pedido, respondeu-lhe que dependia
só dela, pois de sua parte, concordava.
Luciana, então criou coragem e respondeu que "aceitava".
Foi uma festa.
Paulo chamou o garçon e pediu a champanhe mais famosa que
a Casa possuía, pois a ocasião era toda especial.
Fizeram um brinde e Paulo disse que no dia seguinte, iria providenciar
as alianças e determinar a data do enlace. Terminada a
festa, todos voltaram para casa, tomaram um cafezinho e conversaram
até altas horas da noite.
Estavam felizes. Foram repousar, pois o dia havia sido exaustivo
e muito emotivo.
No dia seguinte, Paulo se levantou e Luciana já se encontrava
toda arrumada para sair, pois tinham que providenciar as alianças.
Foram a uma famosa casa de jóias, viram vários modelos
e optaram por um que era do agrado dos dois. Aproveitando a medida
do dedo da Luciana, Paulo comprou também, sem que ela notasse,
um lindo anel de brilhantes, que seria o presente de noivado.
Ao chegar em casa, todos reunidos, houve a cerimônia da
entrega das alianças e para completar, o Paulo deu-lhe
de presente, também, o anel de brilhantes. O almoço
foi pomposo, regado a vinho Português e na oportunidade,
marcaram o casamento para trinta dias após, cerimônia
que seria oficializada pelo Pároco da cidade da Luciana.
Iriam até lá, convida-lo.
À tarde, partiram para o Vale das Paineiras todos felizes.
Martins nem acreditava no que estava acontecendo. Luciana, esta
nem se fala, pois o seu sonho estava já a meio caminho
e o Paulo, por realizar o que ele mais ansiava.Ao chegar, a alegria
era geral inclusive da Maria das Graças e Matilde.
Procuraram o Pároco e conversaram bastante com ele que
aceitou o convite para a cerimônia do casamento na Igreja
da Capital. O Arcebispo já havia permitido, por ser um
caso especial.
Luciana, que já vinha preparando o enxoval, tinha quase
tudo pronto. Na cidade, a notícia se espalhou com uma velocidade
muito grande. A Luciana iria se casar e muito bem. Era o comentário
geral.
O tempo era curto. Voltaram à Capital para terminar de
arrumar o enxoval e preparar o vestido de noiva.
A mãe de Paulo levou a Luciana a um estilista que desenhou
e confeccionou um vestido ao gosto dela.Enfim, dentro de vinte
e cinco dias já estava tudo pronto.
Paulo adquiriu uma casa em outro bairro nobre da Capital, fez
algumas reformas e ficou como Luciana desejava. Levou para lá
duas criadas que iriam ajudar a Luciana. Os convites já
estavam prontos e foram distribuídos a tempo. A festa seria
realizada em um clube, pois seria mais prático.
Paulo foi ao seu escritório de advocacia, comunicou aos
colegas e mandou fazer a distribuição dos convites.
Todos os seus colegas e funcionários ficaram radiantes
com a idéia. Agora, os donos do escritório, todos
casados.
No Vale das Paineiras, o Martins bastante nervoso, pois era a
sua primeira filha que iria se casar. As suas filhas Maria das
Graças e Matilde estavam se preparando para o grande dia.
O mais interessante, é que aquele ódio que elas
alimentavam contra a Luciana, desapareceu. Alguma chama benfazeja
deve ter iluminado àqueles corações maldosos
e mostrado a elas, que o caminho não era por aí.
A alegria era tão grande, que passaram a ajudar a Luciana.
Coisas que acontecem.
Chegou o grande dia. Martins e as filhas ficaram hospedados em
casa dos pais do Paulo. Na hora certa, o carro veio busca-los
para a cerimônia na Igreja. O Paulo chegou com a sua mãe
e ocupou o seu lugar próximo ao altar. Ficaram aguardando
a noiva. O atraso foi só de trinta minutos. A Igreja estava
arranjada com muito esmero e repleta de convidados e não
convidados, que sempre estão presentes.
Havia um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas
amadores, que no final mais se atrapalhavam, do que propriamente
trabalhavam.
Mas, tudo ia correndo bem, quando o órgão principal
da Matriz soou as primeiras notas da Ave Maria de Gounot, o que
causou uma impressão celestial. A noiva vai saindo do veículo,
linda e preparada com muito gosto de braços dados com o
seu pai . Estava deslumbrante aos olhos dos convidados. Estava
muito feliz.
Foi acontecendo o ritual.Terminada a cerimônia na Igreja
Matriz, todos se encaminharam para o clube, onde haveria os cumprimentos
aos noivos, pais, padrinhos e madrinhas. O clube também
estava muito bem decorado. O casamento foi uma autêntica
pompa. Tudo aconteceu como haviam planejado. Após o cerimonial
de costume, champanhe, o bolo de noiva, a valsa, o casal Luciana
e Paulo se despediram sutilmente, saíram e foram para casa
para mudar a roupa, pois teriam que estar brevemente no aeroporto
para a sua viagem de núpcias. Estava programada uma viagem
de vinte dias pela Europa: Portugal, Espanha, França e
Itália, quando retornariam ao Brasil.
Martins foi com as filhas para a mansão dos pais de Paulo
e no dia seguinte, iriam para o Vale das Paineiras. Todos muito
felizes. Martins foi à Matriz agradecer a grande graça
recebida, pois havia prometido à Deus, u ´a missa
em agradecimento às suas preces que haviam sido ouvidas.
No Vale das Paineiras, tudo voltou ao normal. Martins foi para
o empório, desta vez ajudado pela Maria das Graças.
A sua irmã, assumiu as obrigações do lar,
em lugar da Luciana. E assim, tudo terminou bem.
As irmãs verificaram que a prática do bem é
sempre melhor do que o ciúme, o ódio e a maldade.
A bondade da Luciana foi recompensada e serviu como exemplo para
as irmãs. Elas se modificaram para melhor.
Só o trabalho e os bons procedimentos dignificariam a vida
das irmãs em lugar do ócio e do retalhamento da
vida alheia. Valeu.
Alberto Metello Neves
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