Entre Irmãs

— Alô?
— Alô!
— Beth?
— Bia?!? oi,... que foi?
— (...)
— Fala Bia.
— É a tia Dê.
— Que que tem?
— Morreu...
— Ãnh?
— Morreu... tia Dê...
— De quê?
— Puta que pariu!!! Eu ligo dizendo que tia Dê morreu e você me pergunta de
quê?
— E o que você queria que eu perguntasse?
— Morreu dormindo...
— (gargalhadas)
— Ficou louca?
— Lembrei daquela piada.... que horas é o enterro?
— 18:00...
— tá...
— (...)
— (...)
— Ainda tem o vestido rosa? (chorando)
— Tenho, e não é um vestido, é um manteaux. Eu adorava tia Dê... Beth...
— Eu também. E a vida?
— Indo... indo... indo...
— Vou me separar do Alberto. Resolvi hoje. Quinze anos. Acabou. Finito!
— É sempre assim... parece praga, mas o Gustavo não é de todo mau, ainda
conseguimos trepar entre uma e outra reunião.
— Vocês não fazem amor?
— Já fizemos, hoje em dia a gente trepa. Dói menos. Conheceu alguém?
— Sim e não. Mas não é esse o motivo, simplesmente acabou... sem tesão, sem
vontade, sem nada, parece um deserto a minha casa. Chega.
— E as crianças?
— Ficam com ele. Vou estudar fora por seis meses. Quando voltar, resolvo.
— Precipitada como sempre, maninha.
— Sabia que isso viria à tona um dia. Nosso afastamento ocorreu por minha culpa, é isso o que quer dizer?
— Digamos que o nosso último encontro não tenha sido dos melhores. Pra falar a verdade você sempre foi impulsiva e isso, magoa.
— Dá um tempo... tia Dê morreu...
— Está bem. Nos vemos no cemitério?
— Não. Eu não vou.
— Por que?
— Não lido bem com a morte. Fico noites sem dormir pensando nisso.
— Nos vemos quando, então?
— Qualquer dia desses...
— Está bem...
— Tenho que desligar, a campainha tá tocando. Tchau.
— Espera Beth, quero dizer uma coisa ainda....
— Depois Bia... depois...
(click)
— Te amo, Beth...

Mariza Lourenço