Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  dezembro de 2001

TERCEIRO SETOR E TERCEIRO MILÊNIO

Acima do poder da política, acima dos números da economia, uma nova força está se ampliando em todo o mundo: a solidariedade, o propósito e a boa vontade das pessoas reunidas em organizações sem fins lucrativos. Governos redescobrem o valor do voluntariado e, depois de séculos no exercício do Poder, confessam-se incapazes de, sozinhos, resolverem os graves problemas de toda ordem que crescem e aparecem no cotidiano, e reiteradamente, na vida das comunidades.

I

A expressão "Terceiro Setor" é nova. Não é Governo (setor público) nem é Mercado (setor privado). Significa aquele conjunto de associações, clubes, fundações e outras denominações dadas a organizações de pessoas físicas e jurídicas que trabalham pela redução dos níveis de carências de diversos segmentos da sociedade.

II

Os governos, por insuficiência, incapacidade ou improbidade, decretaram sua própria falência como agentes únicos da salvação dos seres humanos na Terra. Estão procurando formar uma nova aliança. Para isso, precisam baixar a guarda, abrir-se sincera e honestamente para a parceria. Os cidadãos estão querendo participar, estão querendo colaborar. Querem sair do estado de dependência e adquirir um "status" de competência. Mas é necessário que, toda manhã, ao sair de casa, governantes deixem pendurada, no armário, a arrogância com que principalmente se vestem ao se investirem no exercício do Poder. Só os que não têm valor dentro de si buscam símbolos externos - entre eles o Poder, o dinheiro, o carro zero, a mansão nova, a nota e a foto, negociadas, em coluna de jornal. Esse tipo de deficiente quer é poder aparecer. A comunidade quer é poder fazer.

III

É preciso dar mais corpo ao livro mais fino do mundo - o dicionário biográfico de políticos competentes e honestos. É indispensável enriquecer o perfil de cada um com palavras-ações como parceria, gestão participativa, transparência, solidariedade, economia social, "empowerment", planejamento estratégico, orçamento participativo, espírito comunitário, visão de futuro.


IV

Mais que o artista, que vai aonde o povo está, é preciso chegar aonde a comunidade quer ir. Chegar junto. Sair da lesma lerda, da pasmaceira que assola a mente e as (acomod)ações de tanta gente que entra na Política só para chegar ao Poder e, quando chega ao Poder, só pensa na Política. Política e Poder, é bom lembrar, são meios, e não fins em si mesmos.


V

Convidar, mas convidar "de coração", sem camuflagens nem intenções mesquinhas, as organizações do Terceiro Setor e dividir com elas os encargos muitos que lhe cabem, devia ser prática permanente de qualquer governante. Na última das hipóteses, é egocentrismo (senão egoísmo ou asnice) achar que acertará tudo sozinho. Do outro lado, será estimulante errar (e aprender) junto com a comunidade.


VI

Se o Setor Público faliu a pátria e se o Setor Privado apenas se serviu dela, a solução, no Terceiro Milênio, é o Terceiro Setor. Não parece haver uma quarta opção.

Oremos.

Edmilson Sanches.

« Voltar