Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  janeiro de 2002

Violência, A enfermidade do Século

Há muito estamos falando da violência. Debati muitas e muitas vezes sobre esse tema , mas constatei desolada, que talvez todos nós estejamos costumados a vê-la de várias formas. Observo como olhamos, indiferentes para as notícias que surgem sobre qualquer tipo de despotismo.

Creio que a violência começa de longe, quando negamos a qualquer irmão de caminhada a mão estendida. Essa é uma agressão que vemos todos os dias nas ruas e, que é apenas o início de outros gestos, que levarão ao sofrimento milhares de pessoas. Quando pensarmos em nossos semelhantes com mais amor e menos
egoísmo, estaremos num caminho mais claro e fácil de percorrer.

No momento estamos traumatizados com o cruel assassinato do prefeito Celso Daniel e uma dor nacional transborda de diversas formas. Sentimo-nos maltratados ao ver o que aconteceu a um ser humano independente de política ou de suas crenças e posições ideológicas. Imagino sua família e amigos e o ultraje que devem estar sentindo, misto de dor e revolta.

Sofremos pelo homem, ser humano, que foi violado no que de mais sagrado e importante existe, que é sua própria vida. Fora os barbarismos e ofensas que os bandidos devem ter cometido. Fora os sofrimentos que devem ter imposto, cheios de atrocidade, ódio e perversidade. Fora as humilhações, sofrimentos intensos, inseguranças e martírio a que muitas pessoas são submetidas nessas circunstâncias.

E aqui estamos falando de pessoas notórias e conhecidas, que a mídia logo divulga, com bastante ênfase e furo de reportagem..

E as pessoas comuns, que não fazem um sucesso público, que não são famosas, muitas vezes humildes, porém, seres humanos sofridos e impotentes? Aquelas que não tem a quem recorrer e que já foram vítimas inocentes dessas quadrilhas que infestam o país?

Penso nas mulheres que mesmo no século XXI são submetidas a violações e traumatismos, em muitos casos, pelo próprio companheiro e que não tem coragem, conhecimento nem forças para se erguer, cercada de filhos, sem emprego e com um horizonte escuro e oculto!

Cheguei a pensar que a grande doença do século fosse a AIDS, mas me enganei. A enfermidade que está matando realmente, horrivelmente, sem defesas, covardemente, é a violência. Que acomete o mundo e o Brasil em particular já que estamos vendo de perto tanta barbárie. Uma doença que corrói o portador, transfomando-o numa fera ou num monstro e fazendo com que eles caminhem de modo devorador para suas vítimas, eliminando-as sem dó nem piedade.

A AIDS é devastadora, mas a violência não está sendo pesquisada nem combatida de uma maneira vigorosa e não existem vacinas para o ódio ou a brutalidade. Temos que sair da nossa acomodação e gritar desesperadamente, lutar ininterruptamente pedindo a esse governo que fala mas não age, ajuda e eficiência para que se possa tolher essa doença fatal.

Precisamos combatê-la desde muito cedo, nos bancos infantis das escolas primárias, ensinando às nossas crianças, o respeito por todos os seres humanos. Mas jamais poderemos conseguir que isso surta efeito, se os pequenos vêem seguidamente a covardia na rua, sem que ninguém faça nada. E continue a assistir nos noticiários, nas novelas, nos casos especiais como principal sensacionalismo para elevar o ibope.

Nesse triste caso de Celso Daniel, brilhante, empreendedor, que jovem começou a lutar pelo nosso país, espero que seu sacrifício se transforme, pelo menos, num estandarte contra essa moléstia terrível e alucinante…

Todos precisamos nos transformar em batalhadores. Mas espero que o governo dessa vez tome alguma providência, não só falando o quanto sente mas agindo com campanhas eficientes, contra essa alucinação e eliminando de nosso país o horror da impunidade. Impunidade que faz com que seres humanos sofram com suas terríveis conseqüências. Tão devastadoras terríveis e alucinantes como uma doença mortal, o mal do século.

Vânia Moreira Diniz

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