INSTANTÂNEOS 4 - FOTO BONITA

A sensação foi de que seria atropelada por um tanque de guerra. Pulei para o lado a tempo, joelhos estalando e reclamando. O tanque era uma mulher alta, nariz empinadíssimo, em sua couraça narcísica. Pensei num instantâneo mas logo lembrei-me de que não aguentaríamos, nem eu nem meus amigos, outra foto triste. Segui. No salão, a manicure, ainda começando a cuidar de minhas mãos, atende ao celular. Era uma cliente dizendo-lhe que " o presente que encomendei pra você pela internet finalmente chegou. Estou indo aí para entregar...". A moça ri e conta como aquela senhora se tornara tão amiga e atenciosa, depois que ela passara a atender em casa sua filha doente. E dos papos que tiveram em momentos difíceis. Novamente toca o celular. "Estou chegando... Não encontro vaga... Desça pra apanhar...". A manicure fica indecisa. Ela e as colegas curiosíssimas olham para mim. "Desça menina", digo-lhe, "eu também já estou curiosa". Alguns minutos depois, ei-la que volta com um grande pacote. Expectativa geral. Abre-o emocionada. E encontra o que mais desejava: um aparelho de vídeo...
Não sabe se chora ou ri. Dá mais alguns detalhes de sua presença junto àquela frequesa nos tempos ruins. Termina de cuidar das minhas mãos, estas então trêmulas. Gratidão —tão simples, tão escassa, tão bela!

Maju Costa