Textos veiculados na lista "Amigos de Blocos" em  maio de 2002


Atiras-me pedras?

Atiras-me pedras,
mulher que sou das tuas noites,
lua dos teus dias?
Tu,
que acolhi em segredo,
e em meus poros sangraste
os despojos de vida?
Atiras-me pedras
porque em meus seios recebo
beijos de outros,
homens sem nomes?
Mas se a eles nem conheço,
são de tantos gostos
os corpos,
tantos tamanhos
os membros:
pequenos
enormes
disformes.
Prazeres impunes,
gemidos que se acabam
ao primeiro canto
de um pássaro implume.
Atiras-me pedras,
se és tu que possuis os segredos
da cor dos meus olhos,
das honras que faço
quando desvendo o caminho
onde se esconde a dor?
Minh'alma
minha vida
meu amor.
Atiras-me pedras,
se são todas tuas
as minhas lembranças,
todos os passos
entrevistos
nos limos do meu passado?
Atiras-me pedras,
se os que comigo deitam
têm cheiros de outros leitos,
amam outros amores
e que eu por mim lhes basto
somente como
fêmea de cio farto?
Atiras-me pedras,
antes que te diga:
em meu coração
somente tu tens morada?!
Atiras-me pedras,
tu, meu amante,
em mim, tua amada?
Atiras-me,
atiras-me pedras?

Mariza Lourenço

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