CIDADES BRASILEIRAS

A PEDRA DA URCA

              A Ricardo Moderno

Sob a Pedra da Urca tirei céu,
Tirei fogo da chuva, pus anzóis
Na água para os peixes. Com o farol
De sua boca nos montes. Como anel

De trombetas e fontes. Caracóis
Gotejam sobre as ervas, corre o mel
Do sossego que abrasa o aceso véu
E esquilo é o sol correndo atrás do sol.

E sal tirei do andar, sopros, corais.
Tirei cristal das aves, ficam plumas
Nas asas rutilantes, duplas e unas,

Se amar é o mar que bate contra o cais.
Melhor morrer amando que perder
No amor todo o desejo de viver.

                                   


PEDRA COROADA

           Ao Ricardo Cravo Albin

Pedra da verde Urca, pedra sedenta
Na vida que te espreita com o trote
Verde de barcos, potros sobre as lentas
Enseadas. E gaivota verde: a morte.

Hóspede sou bem junto ao leve porte
De tuas estrelas verdes na placenta
Da noite também verde e o dorso solte
Com a Ursa, plena luz. No alto se assenta.

Verde Pedra coroada, na república
De auroras e selvas sobre a túnica
E muitos pés de sol, junto à cabeça.

E ao me ater em teu rosto que se arreda
Devagar para o céu, terrestre pedra,
É na nudez que ocultas a beleza.

                                           Carlos Nejar

Do livro: O Inquilino da Urca, Edições Galo Branco, 2008, RJ
Enviado por Diego Mendes Sousa

                        « Voltar