PATOS DAS ESPINHARAS
Para Dinaldo Wanderley, que encarna tudo isto
Era setembro — mês da senhora da guia —
com festins e dobrados dias.
Fazendeiros arrematavam (no pavilhão encarnado)
o carneiro mais gordo da festa
assado nos mandacurus de seus prados.
O velhinho do algodão-doce
fiando à manivela o sonho das crianças
fazia explodir folguedos no carrossel Lima.
Vestidos ornados de sianinhas
e senhas cor de jasmim e caramelo
eram distribuídas (no máximo cinco)
para a roda-gigante o avião-juju e cavalinho
— de preferência o todo branco
que parecia saltar mais alto no coração.A serafina tocava para os querubins
presos às saias da padroeira
e era setembro — mês da senhora da guia
nas suas noites de repiques e novenários.
Moças casadouras chegavam em bando
cobertas de terços e preces aos anjos
e olhos de demônio se acendiam e pecavam
sob a proteção da virgem senhora.
Vernaide WanderleyDo livro: Litorgia ou Poemas com rimas vermelhas (Prêmio Othon Bezerra de Melo, 1985, conferido pela Academia Pernambucana de Letras, e Prêmio Guararapes, 1986, conferido pela UBE/RJ), Prefª Munic. de Patos, 1987, PB