Momento (De Erotikinha,,X)

No estômago, mil asas frementes
de beija-flores antecipam o néctar.
No útero, o lento que fazer do pólen,
acelera-se.
Ascendem ao coração as salamandras,
elementais do fogo.
Tudo teve início
com um olhar, que sinalizou um beijo.
E quando se acendeu a fogueira, na aquiescência,
os tecidos túmidos, os poros úmidos,
invadiu-nos a luminescência
que fez qualquer escuridão
se dissolver na luz.

E os murmúrios soprados ao pé da orelha rosada
ah, a sedução pelos ouvidos,
que escorrega qual líquido inflamável
e cai diretamente no coração,
a provocar um fogaréu...

E os gemidos,
o som contínuo e natural
que brota da garganta aberta em flor madura...
Movimentos contínuos, coleantes:
os corpos serpenteiam e se enroscam,
num milenar ritual.
Os suores, os aromas, a suculência...
A obnubilação para tudo mais que em torno
exista:
somente o que é perceptível é o tálamo
o sim, a entrega, a troca, a soma no soma,
invadir/ser invadido
com permissão.
A premissa
é o desejo, unicamente.

Pudores se esgarçam quais musselinas inúteis.
Todos os panos são barreiras que é preciso

afastar.
E as mãos atrevidas, e os olhares, ora cerrados,
ora bem abertos, ora entrefechados.

O que quer, o que toma, o que cede.
Moto continuum,
as sucedências escorregam nas dobras do tempo.
O orgasmo. A petit-mort.

Enlanguescer, relaxar, suspirar, descansar.

Sob a Terra molhada
por chuva milagrosa,
as sementes crescem, incham,
forçam e brotarão em breve...

No silêncio agora absoluto, enquanto as pessoas
dormitam, os anjos meneiam suavemente as asas,
para que descansem...

                                                        Clevane Pessoa

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