Venha ao seu jeito, mordendo
as ruas por onde passa:
e estroçando as vidraças
com esse olhar debochado.
Venha fazendo arruaça
olhando avesso ou de lado
arrastando as sete saias
com esse andar rebuçado.
Com cianinhas e rendas
bem devagar pespontou
uma a uma as sete saias
de chita, renda ou cambraia;
e as tascas e vielas
dão-se conta dessa graça
e de gosto à esparrela
bebem veneno nas taças.
E passa, repassa, volteia,
seu vinho verde embriaga
e ela o serve a mancheias
mas não o bebe: só traga.
E arma outras trapaças
com seus raros sortilégios
e desafina a guitarra
e bebe em tachos do Tejo.
Do livro: "Bolhas de luz", Ed. autor, 1985, RJ