Talvez as pessoas tenham razão quando dizem que sou um garoto triste. Antigamente eu achava que era devido à minha timidez silenciosa, de quem tem medo de dizer o que pensa, de dizer o que sente..., esse jeito quieto de pessoa fria que finge uma maturidade que ainda não possui e que se isola do mundo, esperando, em vão, que alguém o compreenda de boa-vontade, como um milagre que possa cair do céu e mudar sua vida.
        Mas agora que estou mais lúcido (quem sabe um pouco mais maduro também), agora que vejo entre restos de lembranças o vazio de meu passado, a tristeza de meus dias perdidos por prantos desnecessários  e o silêncio solene de um coração solitário, vejo como por mágica que a única razão do meu pesar é não conseguir atrair sua atenção, seu olhar, seu sorriso.
        Por que sempre nos apaixonamos por quem não nos ama? Confesso que minha tristeza é muito inconstante, pois basta você chegar feliz e ficar do meu lado que tenho vontade de rir o dia inteiro, mesmo que seja esse meu rir que ninguém percebe, que ninguém escuta por não ter som, que ninguém gosta por não ter vida... Talvez algum dia eu consiga vestir de humano minha alma despida de malícia, de sedução e de palavras. Ou quem sabe um dia eu acorde deste sonho mudo e insano, com seus loucos cantantes, seus poetas de esquina e suas festas de debutantes.
        Por que sempre que nos apaixonamos nada parece dar certo? Sei que você não gosta de mim, que nunca gostou, e que nunca vai me perdoar por sujar de amor nossa amizade inocente, quase infantil. Sei que vou sentir saudades de seus mimos carinhosos, de seu nervosismo gentil e de seus olhos de sonhadora, brilhando como duas flores úmidas de orvalho e mais sedutores que mil versos de Shakespeare.
        Mas agora não tenho como voltar atrás, e só me resta assistir a você se separando cada dia um pouquinho mais de mim, evitando qualquer contato que possa me dar esperança, qualquer palavra que possa me dar conforto, qualquer sorriso que não se justifique por uma piada sem-graça, nem sequer um telefonema casual para pintar de colorido esta lua pálida que invade meu quarto, ferindo de luz tudo ao meu redor e criando sombras sem sentido.
        Sei que eu disse coisas que você não queria ouvir, confissões que a covardia dos apaixonados deveria manter em segredo, ocultas em algum lugar onde os lábios não pudessem alcançar, mas por favor, não continue me castigando assim tão cruelmente, falando sobre pessoas que sempre sabem o que dizer quando você está triste, quando você precisa de um amigo para conversar, pois, quando você faz isso, fico completamente indefeso, ciente de como sou fraco, de como é medíocre a minha companhia, de como está distante meu sonho de beijá-la e, pior do que tudo, de como é grande o amor que sinto por você.

Reinaldo de Sena

 
 

 

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