William,
Claro que tenho tempo. Se não tivesse tempo para você,
estaria a negar a nossa amizade. Acho, no entanto, que o texto que me mandou
não é significativo de uma realidade. É apenas um
estado de espirito. Todos nós perdemos um amigo, quiçá,
mais do que um amigo. Alguém bem mais próximo de nós.
Eu perdi, você perdeu.
Mas por estranho que pareça, nenhum de nós perdeu nada.
Da mesma forma que a palavra Amigo define o mais alto grau de intimidade
possível entre dois seres, independentemente do seu grau de parentesco,
também a perda é irreal. Apenas a sua sensação
existe.
Estamos habituados a considerar como Ter – possuir – a possibilidade
de contactarmos apenas através dos sentidos, pelo menos dos
cinco sentidos que nos habituamos a usar na nossa existência do dia
a dia.
Mas a verdade, graças a Deus, não é essa.
Quando nos une um sentimento a alguém, seja ele de amor ou de
ódio, esse sentimento naturalmente perdurará para sempre.
Esse será o laço que nos une e unirá para sempre a
alguém. É indestrutível. É imenso. É
interminável e infinito. É e será para todo o sempre.
A vida, no entanto, congelou-nos num universo diminuto, tanto em tempo
como em espaço.
Não conseguimos e não permitimos que a ideia de uma outra
realidade, maior, vasta e eterna, nos assegure a continuidade dos nossos
sentimentos pelos outros. Limitados pelos nossos sentidos, quando deixamos
de os ver, de os sentir, de os cheirar, de os tocar, consideramos então
que tudo acabou, que tudo irremediavelmente acabou e deixamo-nos resvalar
para uma noção de perda irreparável. Existiu, não
existe mais.
Surge então o sentimento de culpa e o remorso. O que eu não
poderia ter feito por ele !
Não é possível conseguimos o perdão se
não aprendermos primeiro a perdoarmo-nos a nós próprios.
A verdade é:
Quando amamos alguém, esse amor continuará a existir
para sempre. Quando a vida física nos separa, aprimorima-se o sentimento
que nos une. A amizade e o amor sublimam-se a dimensões que não
nos são dadas a conhecer pelos sentidos. Entra-se no etéreo.
Passa-se ao Alpha e ao Omega. Inicia-se o começo. Atingem-se a libertação
e a comunhão completas.
O beijo e o abraço que nos demos um dia, estarão gravados
no futuro e para sempre. Esta é a realidade. Tudo o resto são
limitações que nos impomos.
Também eu penso em você. E pensarei sempre, independentemente
da distancia que nos separa. Você existe dentro de min. Os laços
que criámos durarão a eternidade. Serão para sempre.
Será que você entende agora o que criámos juntos ?
Como podemos despedirmo-nos de um amigo, quando ele parte. Só
dizendo ‘até breve’.
Como podemos aconchegar um amigo enquanto ele não parte. Só
dizendo ‘ estou aqui’.
Não choro os meus amigos. Choro por min, pela saudade que deixaram,
mas guardo no mais fundo do meu ser, a esperança e a fé no
nosso próximo reencontro, dizendo:
Amigo, um abraço.
Estou aqui.
José da Cunha Lima