Saudoso amigo,
Depois de cumprir
expediente na Thesaurus (onde você ia sempre me fisitar para um bate-papo
e um cafezinho, lembra-se?), irei à Igrejinha Nossa Senhora de Fátima
assistir à missa que seus filhos Denise, Márcio e Fábio
encomendaram em memória de sua alma; em seguida darei uma passadinha
na Galeria Cavalier para a abertura da exposição de quadros
de um conterrâneo do Clóvis Sena, chamado Péricles
Rocha; finalmente, deverei ir conhecer o novo apartamento de Sofia Vivo
e Mário, que me prometeram um uisquezinho de doze anos e a presença
do Santiago Naud, além, é claro, de algumas beldades latino-americanas.
Mas o que eu queria
mesmo era conversar e saber como vão as coisas por aí. Afinal,
está fazendo um ano que você nos deixou. Aqui, com essa onda
de impeachment, está do jeito que o diabo gosta: uma merda, como
diria você. Não se fala em outra coisa...
Anteontem, em nossa
costumeira mesa do Macambira, recebemos a visita do Fábio Lucas
e do Carlos Alberto Abel, que está lecionando na UnB; o Fábio,
dando um curso até dezembro, e o Carlos Alberto, efetivamente, pois
já faz parte do corpo docente da Universidade desde o início
do ano.
Como você deve
saber, o Romeu Jobim, depois do susto que nos deu, já está
em casa se restabelecendo e, pasme, preparando os originas de um livro
de poemas para publicação, onde deverá reunir quadras
e haicais.
Outra notícia
que deve agradar ao “velho polaco” é relativa à nossa amada
Academia de Letras do Brasil (por sinal muito bem dirigida pelo José
Geraldo): neste segundo semestre foram eleitos Hélio Pólvora,
seu velho amigo da Bahia, e Jacinto Guerra, outro mineiro que vem engrossar
as fileiras das Gerais. Mas não se preocupe, o Brasil acabará
encontrando seu caminho de volta ao sertão. Cassiano Nunes e eu
acreditamos muito nisso.
Creio que você tenha tido notícias do Mário
Donato, do Luiz Piva do Ricardo Ramos, do Antônio Girão Barroso,
do Paulo Mendes Campos, do Péricles da Silva Ramos. Todos eles foram
depois de você. Fisher, a título de sugestão: que tal
fundar aí uma sucursal da ANE? Afinal, você poderá
contar com um time da pesada, sem precisar fazer nenhuma concessão.
Do pessoal daqui,
há pouco o que dizer: Branca Bakaj está de malas prontas
para a Europa. J. M. Leitão acaba de retornar do México.
Napoleão Valadares continua firme entre a fazenda e a cidade; Maria
Izabel Brunacci resolveu tomar um chá de sumiço, só
aparece de vez em quando; José Geraldo, como você sabe, é
o aposentado mais ocupado que existe, mas está sempre presente;
Anderson Braga Horta firmou-se definitivamente como o nosso melhor poeta
da atualidade; Jeronymo Rivera continua produzindo seu programa operístico
semanal — aliás a salvação das tardes de sábado;
Esmerino Magalhães Jr., após dar umas aparecidas, resolveu
seguir o caminho do Viriato Gás[ar e do Wilson Pereira: escafedeu-se.
Afonso Ligório, na mesma, às vezes aparece, às
vezes não; Júlio Cezar Meirelles, depois que você partiu,
esqueceu completamente o endereço da Macambira; Luiz Manzolillo,
finalmente, acostumou-se à idéia do prêmio da ABL,
e já está escrevendo novo romance. José Hélder
de Souza, entre um uísque e outro, está sempre entre nós;
Aldo Magalhães, ao que parece, está muito em — atualmente
prepara um recital com poemas de Mario Quintana; Luiz Adolfo Pinheiro entrou
para a galeria dos Prêmios da ABL: conquistou, este ano, o “José
de Alencar”, com sua novela Tocata & Fuga; Aparecida e Aluízio
Valle, agora, morando no Rio de Janeiro, estão fazendo muita falta;
Zita de Andrade Lima tem-se revelado, a cada dia, uma iel escudeira da
ANE; o casal Heitor Martins veio ao Brasil, editou o livro de poemas da
Marlene e retornou aos “states” no mês passado; Ana Viggiano, como
você já deve saber, foi morar em Florianópolis depois
de passar a presidência da Associação para o nosso
Danilo Gomes, que vem fazendo um excelente trabalho. Aglaia Souza, após
o livro de contos, prepara um novo, de poemas.
Por hoje é
só. Se você vir o Mauro Mota, dê-lhe um grande abraço
por mim. So seu discípulo e amigo, sempre saudoso,
João Carlos Taveira
P.S. -Parei de fumar no ano passado. Resolvi dar uma chance ao sonho de viver pelo menos uns 80 anos. Ah, o Jaime manda lembranças.
Fonte: Publicada no Artigo Definido
do “Correio Braziliense” (DF), de 28 de setembro de 1992.
Enviada por: Thais Florinda