15 de novembro. Viva a República!
Tarsila, minha querida amiga:
[...]
Cuidado! Fortifiquem-se bem de teorias e desculpas
e coisas vistas em Paris. Quando vocês aqui chegarem, temos briga,
na
certa. Desde já, desafio vocês todos
juntos. Tarsila, Oswald, Sérgio, para uma discussão formidável.
Vocês foram a Paris
como burgueses. Estão épatés.
E se fizeram futuristas! hi! hi! hi! Choro de inveja. Mas é verdade
que considero vocês todos
uns caipiras em Paris. Vocês se parisianizaram
na epiderme. Isso é horrível! Tarsila, Tarsila, volta para
dentro de si mesma.
Abandona o Gris e o Lhote, empresários
de criticismos decrépitos e de estesias decadentes! Abandona Paris!
Tarsila! Tarsila! Vem paraa mata virgem, onde não há arte
negra, onde não há também arroios gentis. Há
MATA VIRGEM. Criei o matavirgismo. Sou matavirgista. Disso é que
o mundo, a arte, o Brasil e minha queridíssima Tarsila precisam.
Si vocês tiverem coragem venham para cá,
aceitem meu desafio.
E como será lindo ver na moldura verde
da mata a figura linda, renascente de Tarsila Amaral. Chegarei silencioso,
confiante
e te beijarei as mãos divinas.
Com abraço muito amigo
do Mário
Mário de Andrade
Do livro: "Tarsila do Amaral, a
modernista", de Nádia Battella Gotlib, Editora SENAC/
São Paulo, 2ª ed., 2000. SP
Enviado por: Leninha