Pai,

  Para começo de conversa, não se deve esperar pouca coisa de alguém que nasceu em berço napolitano, embrulhado, talvez, em o melhor linho da Rua Chile.

  Giuseppe Giovanni Paim Belmonte. Nome do galã da novela italiana das oito? Não, mas até que não seria má idéia. Umas aulinhas de piano e estaria resolvido. Ok, sei que meu pai não se parece, necessariamente, com o Gianechini e que estou pecando pelo exagero. Mas, confesso que ainda não consegui deixar de vê-lo como um ídolo. Quando criança, ele era para mim o super-homem que quebrou o pé comprando minhas sandálias da Xuxa. Que rolou na cama comigo, brincando de macarrão. Hoje, ele é o cara que sabe o CPF de cor, faz piadas de humor negro e adora falar sobre a importância do trabalho. De qualquer forma, continua sendo meu herói.

  Mas, afinal, como defini-lo? Filho de um imigrante italiano com uma moça pura de Santo Amaro, ele é uma mistura de fatos. Leva no sangue a Segunda Guerra e o Tropicalismo (Mesmo que estes não tenham sido tão contemporâneos assim). Seria ele um Caetano Facista?

   Não, ele é um cara que pode ser visto por vários ângulos e pontos. Defini-lo bem seria chamá-lo de paraíso infernal. Ama Roberto Carlos como gosta de Beatles. Grita como Al Pacino em o “Poderoso Chefão” e acolhe como Madre Teresa de Calcutá. Fez duas faculdades e é um homem culto mas, não consegue deixar de parecer com uma beata velha quando acredita em tolas supertições. Já perdi a conta de quantas vezes tive que entrar, exausta, com o pé direito em casa depois de uma noite de Reveillon. Ou das vezes em que fui obrigada a me entupir de lentilha com a ameaça de uma possível pobreza, caso isso eu não fizesse. E, por falar em dinheiro, como posso esquecer de todas as contas feitas para me provar que não deveria pedir ajuste da mesada? Sem dúvidas, as palavras exagero e contradição são marcas de sua personalidade.!

   Que o amor e Ray Charles são cegos, todo mundo sabe. E é por isso que, peço licença, pelos elogios exacerbados de filha que irei fazer. Não é fácil ser pai e amigo de uma pessoa como eu. Sou muito passional, falo demais e obrigo todo mundo que mora comigo (inclusive Dalva) a ler meus contos, mesmo sabendo que não vão entender nada. Como conviver com alguém assim? Acho que só meu pai (com a ajudinha da temível doutora Sônia) podem responder isso bem. Mesmo nos momentos mais difíceis, esteve ao meu lado, me ajudando e amando. E é por isso que desejo que, nestes dias, tão especiais, ele seja muito feliz e realize todos os seus sonhos em paz. Porque a paz é privilégio de poucos, num mundo tão cheio de perigos como nosso. Porque ele merece pela pessoa que é.

                                 Juízo e calma.

                                               Beijos,

                                                      Renata

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