"Saúde e bênção ao meu caríssimo confrade D. Saldanha Moreira [1], futuro bispo de Constantinopla. Em segundo lugar devo participar a V. Excia. Rvdma. que a minha esposa já deu à luz da publicidade mais um reverendíssimo volume macho [2], a 5 de setembro (dies alba notanda lapillo). Em quarto lugar felicito a V. Excia. Rvdma. de não ter morrido, o que seria deplorável. Em décimo lugar envio-lhe minhas congratulações episcopais por se achar nessa ilustre Paulicéia (de tão recordosa memória, quero dizer, de tão memoriosa, ia dizendo, saudória mimosa... arre! que estou quase como o bom e estimável dr. Brotero, velho [3], um dos homens da nossa antiga Academia, cujo nome venero sinceramente, e mais alguns, porque, à exceção de um Jeronymo Prudêncio Tavarés de Tal Cabral [sic], a quem Deus, digo mal, o diabo haja [4], todos me trataram com atenção que eu não merecia; creio que está fechado o parênteses... isto de andar entre parentes é o mesmo que entre paredes). (Está feita a parede).
Diz na ínclita encíclica, que tenho diante dos olhos, que sabe [sic] que a Enjeitada [5] já abriu os olhos !!! — por isso não é novidade. Quanto ao século ter nela dado um beijo, há a esse respeito controvérsias e haverá conferências, que terão lugar no século cento e setenta e nove, com a assistência de S.M.I do Kediva e de Arabi, e consta que Sesostris também comparecerá., acompanhado de Semíramis, Cleópatra, Alexandre Magno (não pensem que é Tamagno, cantor italiano, nem Carlos Manho) estamos outra vez às voltas com os parentes (que parentalha aborrecida!) Aristóteles, Sardanapalo, Castro Urso, Inês de Castro, Camões, D. Quixote, Gambetta, o Padre Fidélis da Caderneta, Sancho Pança, Mefistófeles e Fausto, Lord Byron e a minha reverendíssima pessoa que, nessa ocasião, estará talvez com dor de barriga e por isso me mandarei representar por alguns de meus netos, para arranjar os quais deixo encarregados os meus filhos. O único volume da Enjeitada que, por minha ordem e à minha custa foi enviado a São Paulo, e que dei ordem (posso dizer assim) ao sr. Garnier [6], foi um estudante a quem consagro muita simpatia, e mesmo amizade, se é que um velho como eu pode consagrar amizade a um moço tão distinto, outra vez os parênteses — (Boaventura Britto Guerra).
O Luís Guimarães [7], meu sobrinho, poderia ter levado a minha velha efígie, quero dizer retrato, (ma portraiture, como dizia Balzac), estou ficando pedante e citador como ... 3 000 000 000 000 000 000 000 ... de diabos; façam a conta.
Ora, sendo certo que os três ângulos de um triângulo são iguais a dois retos, ninguém pode duvidar que Santo Antônio nasceu na China. Plutarco em suas biografias esqueceu-se de nós! Que patife! Entretanto eu sei que o avô dele bebia vinho às canadas! [8] Que patifaria! São cousas deste mundo... digo mal, são cousas do outro mundo. É mesmo o mar profundo.
De admirações e interrogações
Por essas infinitas amplidões.
Ah! Por falar em retrato, veio aqui um homem, o Sr. Freitas [11], genro de Emílio Salvador Ascagne [11], a quem com muito prazer entreguei em mão própria a minha velha efígie. Esse senhor, por afinidade, é parente do meu bom amigo e colega Francisco Aurélio de Sousa Carvalho. Eu pretendia mandar um exemplar da Enjeitada a Francisco Aurélio e Laurindo Abelardo de Britto mas... mas... se eu não morrer — mas eu que não terei remédio senão morrer... mas pretendo deixar isto para mas tarde —, em janeiro do ano seguinte hei de manifestar perante o orbe católico um pequeno sinal de minhas simpatias que tenho por esses belos e inteligentes meninos da minha idade. Ha lá em São Paulo um menino da minha idade e do meu nome, o muito calvo Bernardo Gavião Peixoto [9] (é pena ser gavião) mas é bom rapaz; fez e creio que ainda está fazendo belíssima administração na província do Rio de Janeiro. E como deve estar longe da Paulicéia, por isso não lhe envio muito saudar, porque se poderia perder em estrada de ferro ou no mar.
Agora, falando sério, o meu busto é verônica? [10] O diabo do Guilherme Libnau [11] faz negócio e eu não posso comportar a despesa, porque... porque... sou pobre. O Peregrino, que hoje está na Corte, pediu-me autorização para reproduzir a minha verônica; e eu passei ordem franca para te enviar uma (vai minha bênção papal ao Zé Luiz e Zé Fernandes) que trarás sempre ao pescoço porque afugenta febres... Si quæris miracula... Eu mesmo não sei se sou Santo Antônio ou São Bernardo, a única cousa que sei é que sou santo, mas não da minha devoção!!! Heresia! Tremenda heresia!! Eu sou santo é de minha devoção, porque nunca achei quem goste de mim como eu mesmo.
Eu gosto de mim de uma maneira... ah! meu Deus!... muitas vezes tenho vontade de me surrar com um bacalhau, que eu bem mereço, mas fico com tanta pena de mim! E é por isso que te peço que venhas me dar essa surra, porque eu... eu... não tenho ânimo. Reveste-te de coragem, surra-me, e eu te pagarei na mesma moeda!... Mas qual! Já vejo que nem eu nem tu podemos desempenhar essa heróica missão! Pobres mortais! Infeliz mundo! Desgraçada Pátria! Mísero gênero humano! Infelizes pais!... Miserandas mães, Tristes filhos! Caducos avós! Deploráveis tios!... Desamparados sobrinhos! Ó mui formosas e ditosas primas (de violão, bem entendido), porque eu não tenho prima alguma e se tenho é mais velha do que eu... não vale a pena. O tratante do José Luiz não quis ter a pachorra de copiar os versos que fiz ao Sete de Setembro (sei que não foi preguiça, nem má vontade; é mais natural que ele mesmo, estonteado como é, não tivesse os supraditos), mas eu com o auxílio de minha memoria e alguns autógrafos meios rasgados, os recompus, e foram impressos no Jornal do Commercio e n’ A Provincia de Minas.
Eu pretendo fazer publicação de poesias bestialógicas, não obscenas, e entre essas uma das mais patuscas e estudantásticas [sic] que tenho é uma paródia a Castro Alves, que começa assim:
Era hora das epopéias
Das epopéias gigantes
Na frente dos estudantes
Pululam gentis idéias
Quase que posso jurar que o José Luiz [11] tem ela no seu canhenho. Eu não escrevo (o José Luiz porque sei que não me responderá nem pau nem pedra. Se eu soubesse que ele me respondesse, mesmo que me passasse uma descompostura...! Quem pergunta quer saber. Quem escreve quer resposta.
Amen
Dominus vobiscum
Cantochão
Lembranças ao fariseu dr. Padre Justino de Óculos Azuis [11], e diga-lhe que a classe dos jesuítas tolera-se neste pobre Brasil, mas não se estima.
Teu sincero amigo
P.S. Creio que o Justino não é padre, mas é
cousa pior ainda... haja boa interpretação.
Errata: Não pretendo morrer em janeiro do ano seguinte.
Lembranças ao fariseu dr. Padre Justino de Óculos Azuis,
e diga-lhe que a classe dos jesuítas tolera-se neste pobre Brasil,
mas não se estima.
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Notas explicativas: