New York, 23 de julho de 1935
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            Por acaso vi uma certa carta, num certo casaco, pertencente a um certo homem, vinda de uma certa dama da distante
e maldita Alemanha.Acho que deve ser a dama que Willi Valentier mandou para cá para se divertir e com propósitos
"científicos", "artísticos', e arqueológicos"...que me deixou zangada e, para lhe dizer a verdade, enciumada...
            Por que tenho que ser tão teimosa e obstinada, a ponto de não compreender que as cartas, os problemas com as
saias, as professoras de ...inglês, as modelos ciganas, as ajudantes de "boa vontade", as discípulas interessadas na "arte de
pintar"e as mulheres plenipotenciárias, mandadas de lugares distantes, são simplesmente piadas, e que, lá no fundo, você e eu
nos amamos muito? Mesmo que vivenciemos aventuras intermináveis, rachaduras nas portas, "referências" a nossas mães e que
queixas internacionais, acaso não estamos sempre sabendo que amamos um ao outro? Acho que o que está acontecendo é
que sou meio estúpida e uma tola,porque todas essas coisas aconteceram e se repetiram nos sete anos que vivemos juntos.
Toda esta raiva simplesmente me fez compreender melhor que eu o amo mais do que a minha própria pele, e que, embora
você não me ame tanto assim, pelo menos me ama um pouquinho - não é? Se isto não for verdade, sempre terei a esperança
de que possa ser, e isto me basta...
                Ame-me um pouco. Eu adoro você.
                Frida

                                           Frida Kahlo

 
 

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