Pougues, 12 de junho de 1900

Meu caro Machado

        Muito agradecido por suas felicitações e por seu livro ¹ que já tinha sorvido na fonte. V. sabe que sobre mim sua pena tem o poder de um condão e como V. me pode vivar no que bem lhe parecer recomendo-me à sua bondade. O Graça diz-me que V. daqui a uns nove dias vai remoçar de um ano ².  Apesar de não chegar a tempo da festa que as Várias hão de ter anunciado aos amigos, suponha que o festejarei com um bom copo da bica da Rainha, que é para nós brasileiros na Europa a bebida por que suspiramos
Muitas lembran~cas afetuosas do seu muito sinceramente dedicado

Joaquim Nabuco

    Não deixe morrer a Academia. V; hoje tem obrigação de reuni-la e tem meios para isso, ninguém resiste a um pedido seu; Será preciso que morra mais algum acadêmico para haver outra sessão? Que papel representamos nõs então? Foi para isso, para morrermos, que o Lúcio e V. nos convidaram? Não, meu caro, reunamo-nos (não conte por ora comigo, esperemos pelo telefone sem fios) para conjurar o agoiro, é muito melhor. Trabalhemos todos vivos.

                                                                                         Joaquim Nabuco


Brazilian Legation
London
Dez, 6, 1901

Meu caro Machado,

        Aí vai o meu voto. Dou-o ao Afonso Arinos por diversos motivos, sendo um deles ser a vaga do Eduardo Prado. Para a cadeira do Francisco de Castro eu votaria com prazer no assis Brasil ³. Por que não reuniram as eleições num só dia? V. sabe que eu penso dever a Academia ter uma esfera mais lata do que a literatura exclusivamente literária para ter maior influência. Nós precisamos de um certo número de grands seigneurs de tosos os partidos. Não devem ser muitos, mas devemos ter, mesmo porque isso populariza as letras.
        V. agora está meu devedor de muitas cartas. Eu lhe perdôo, porém, a dívida. Escreva-me por todos os motivos, sabe o prazer que me dá sua letra, mas não para responder. A resposta em cartas com diferença de meses é absurda. As cartas não devem viver tanto tempo assim.
        Saudades a todos e creia-me sempre
        Seu velho amigo e velhíssimo admirador,

Joaquim Nabuco

Do livro: "Machado de Assis & Joaquim Nabuco - Correspondência", org., introd. e notas de Graça Aranha, ABL e Topbooks (1ª ed. 1923),  3ª ed., 2003, RJ

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¹ Dom Casmurro - Joaquim Nabuco e Graça Aranha leram em Paris as provas deste romance por uma infidelidade do editor, que violou um dos preceitos de Machado de Assis de não revelar os seus livros, antes de impressos, mesmo aos mais íntimos
² Machado de Assis nasceu a 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro.
³ Na realidade Afonso Arinos foi o substituto de Eduardo Prado, seu diretor no órgão monarquista Comércio de S. Paulo, e a quem estava ligado por parentesco. Francisco de Castro foi substituído por Martins Júnior.


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