1920
Olho para os trilhos e vejo você chegando – emergindo da névoa & bruma, suas queridas calças amarrotadas correm com pressa para mim – Sem você, muito querido queridíssimo, não, não enxergaria nem ouviria nem sentiria nem pensaria – nem viveria – amo você tanto e em toda a nossa vida jamais permitirei que fiquemos separados outra noite. É como implorar compaixão de uma tempestade ou matar a Beleza ou envelhecer sem você. Quero tanto de beijar – atrás onde começa seu amado cabelo e no peito – amo você – e não sei dizer quanto. Pensar que eu vou morrer sem você saber. Palerma, você tem de tentar sentir o quanto faço – o quanto fico inanimada quando você se vai – nem mesmo consigo odiar essas pessoas desgraçadas – Ninguém tinha nenhum direito de viver, só nós – e eles estão emporcalhando nosso mundo e não posso odiá-los porque desejo tanto você – Venha depressa – Venha depressa para mim – eu jamais poderia passar sem você, ainda que me odiasse e estivesse coberto de chagas como um leproso – ainda que fugisse com outra mulher e me deixasse morrer de fome e me espancasse – eu ainda desejaria você, eu sei –
Amante, Amante, Querido
Sua Esposa
Zelda Fitzgerald
Do livro: "Cartas do coração - Uma antologida do amor ", org. Elisabeth Orsini, Rocco, 1999, RJ.